OBRAS DE VILLA-LOBOS
Coube ao maestro Heitor Villa-Lobos, regendo a
Sinfônica do Rio de Janeiro, a primazia de abrir a temporada de concertos deste
ano na capital da República. A obra de estréia foi o seu primeiro Concerto para
piano e orquestra, tendo como solista o virtuose paulista Souza Lima. Foi, como
não poderia deixar de ser, um sucesso, uma consagração.
Esse concerto de Villa-Lobos foi apresentado ao
público, pela primeira vez, há cerca de três anos pela pianista canadense Ellen
Ballon, em recital levado a efeito na capital da República. É que o maestro
patrício dedicara sua obra à aplaudida virtuose e ela, como homenagem,
executou-a para a culta platéia carioca obtendo sucesso absoluto e aplausos
incondicionais de toda a crítica.
A propósito, segundo notícias que nos chegam,
essa obra de Villa-Lobos vem de ser gravada em disco na Suíça, pela própria
Ellen Ballon, acompanhada pela Orquestre de la Suisse Romande, sob a regência
do maestro Ansermet.
A publicação “The News Records”, consagrada à
música em gravações, insere, num de seus últimos números, notícia sobre o
lançamento, no mercado dos discos, contendo aquela importante obra do nosso
consagrado compositor. Diz, a propósito, “The News Records”:
Não obstante andar pela casa dos mil o número de
composições do mestre brasileiro, temos aqui o seu primeiro concerto para
piano. Sendo um compositor prolífico da música para piano, só e em combinação
com orquestra, Villa-Lobos, no entanto, não havia escrito um Concerto para
piano, do tipo formal, até 1945, quando completou esta sua obra, dedicada a
Ellen Ballon, a presente solista, a quem ele conheceu em Nova York naquele ano.
O concerto é característico de Villa-Lobos, de acordo com o que conhecemos de
sua produção anterior. Em suas obras há qualquer coisa de único e pessoal,
indicando não só que são dele, como ainda que são produto do Brasil, cujo
espírito está sempre presente em toda a música de seu maior compositor.
Traço distintivo desta obra é a sua estrutura
formal, distintivo que falta a tantos de seus trabalhos mais importantes. Aqui,
encontramos uma obra cheia de unidade que não decorre apenas do uso que nela é
feito à forma da sonata tradicional, mas também do controle incessante do
material temático e da coerência do ritmo. O que há nisso de admirável é a
originalidade e outros predicados de natureza semelhante.
![]() |
Ernest Ansermet |
Não havendo bases para comparações, limitamo-nos
a asseverar que a presente execução é colorida e cheia de vibração. Ellen
Ballon possui uma técnica formidável, o que lhe permite vencer, com relativa
facilidade, as dificuldades da partitura. Quanto ao regente Ansermet, diga-se
que trata as saborosas fórmulas rítmicas da partitura orquestral com sua
perícia habitual.
Aí estão apreciações que nos deixam orgulhosos.
Se Villa-Lobos, nesse seu primeiro concerto, provoca comentários da crítica
estrangeira cem por cento favoráveis como esse, para as suas futuras
partituras, destinadas ao piano e orquestra, é de augurar-se aplausos, senão
mais calorosos, ao menos semelhantes.
Na foto: As páginas musicais de Villa-Lobos
começaram a interessar as grandes firmas gravadoras. Além do Concerto nº1
para piano e orquestra, ao qual fazemos referência na crônica de hoje, outras
gravações existem, as quais comentaremos proximamente.
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