segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Diário da Noite, 28 de Abril de 1950

GRAVAÇÃO INFELIZ

Foi com grande surpresa que ouvimos, em dias da semana passada, uma gravação da aplaudida cantora italiana Tati Casoni em que procura interpretar dois sambas bem brasileiros. Todavia, apesar de toda a boa vontade da simpática vocalista, ao adaptar os sambas Ponto Final e Samba Brasileiro para versões italianas e fazer um grande esforço interpretativo de ambas as composições, ela não nos convenceu. E não convenceu pela simples razão de não ser esse o seu gênero. Aliás, cantores de certa fama, deveriam contentar-se em permanecer no seu gênero e não procurar enveredar para estilos diversos do seu, embora aos trancos e barrancos, apenas para satisfazer um público restrito em detrimento de uma legião de admiradores. Quantas vezes temos ouvido gravações soberbas de conhecidos artistas e, entretanto, ficamos decepcionados diante de interpretações suas de músicas que fogem ao seu gênero. O próprio Tito Schipa, que todos admiramos, não fugiu à regra. Certa vez, entendeu de cantar tangos argentinos e o desastre foi total. Tati Casoni, agora, repete a façanha. Por melhor predisposição que tenhamos não é possível aceitar esses sambas cantados pela aplaudida cantora. Positivamente, ela não convence. Talvez, à guisa de consolo para nós próprios, poder-se-ia dizer que está melhorzinha em Ponto Final, pois, ao que parece, o estilo desse samba se casa melhor com a sua reconhecidamente bonita tonalidade vocal.

Tati Casoni
Essa a nossa opinião, após cuidadosa análise do disco. Todavia, a colossal colônia italiana de São Paulo talvez aceite e aplauda o disco. Para o discófilo, entretanto, ele vale apenas como simples curiosidade.

CRÍTICAS À VICTOR

A imprensa carioca não está poupando a Victor de críticas pela sua atual política, que ela julga contrária aos interesses da música nacional. Segundo os jornais cariocas, a aludida gravadora prefere a música e os artistas nacionais aos estrangeiros. Como exemplo, citam um samba, que afirmam ser muito bonito, intitulado Copa do Mundo, e que leva.........
........ Barroso. Aguarda ele, há muito tempo, a oportunidade de ser levado à cera. Todavia, a Victor o tem posto de lado sistematicamente em favor de gravações alienígenas que aguardavam oportunidade há menos tempo que Copa do Mundo. Naturalmente, a Victor tem as suas razões de ordem administrativa para assim proceder. Quer nos parecer, porém, que se trata de uma política errônea, que a indispõe não só com artistas e compositores nacionais, mas com o próprio público.

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