sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Diário da Noite, 14 de Julho de 1950

UM TRIO APRECIADO

A Victor, não faz muito, lançou um disco pelos Three Suns, em que eles interpretam, num arranjo especial, a Serenata da Mula, de Friml, e a Serenata de Schubert. Não tivemos ocasião de apreciar esse disco porque, infelizmente, ele não nos chegou às mãos. Todavia, ouvindo-o agora pudemos constatar do seu valor, especialmente pela face em que executam a Serenata, de Schubert, que eles transformaram, de tênue e confortante melodia, numa versão acentuadamente ritmada, em compasso 4/4.

Os Three Suns, compostos de órgão, acordeão e baixo (em algumas gravações empregam o vibrafone), constituem um dos mais agradáveis conjuntos no gênero. A combinação dos instrumentos, feita sempre com inteligência, resulta em sons curiosos, de efeitos imprevistos, sempre agradáveis. Os instrumentos revezam-se nos solos, chocando-se às vezes, no tema principal da melodia, constituindo aí, principalmente aí, nesse choque de sons diversos, a arte do trio, pois o ouvinte aguarda sempre um resultado imprevisto, isto é, sons combinados de forma agradável.

The Three Suns
Mas não é da gravação das Serenatas, de Friml e de Schubert, que vamos falar em nossa nota de hoje, senão de duas outras Serenatas, a de Romberg, que faz parte da opereta O Príncipe Estudante e a de Bixio e Cherubini, intitulada Serenata ao Luar, que a Victor está colocando nas revendedoras, ainda em gravação dos Three Suns.

A Serenata de O Príncipe Estudante, de Romberg, é uma página musical bastante conhecida do grande público, graças ao rádio-teatro. É ela utilizada com freqüência como característica musical dessas audições radiofônicas em gravações orquestrais. Por outro lado, os amantes de operetas, que não são poucos, conhecem-na e admiram-na pelo original cantado. Os Three Suns emprestam à partitura interpretação curiosa, ainda em tempo 4/4, mas que, apesar disso agrada ao grande público. Como sempre, os solistas se revezam nos solos e, de momentos a momentos chocam-se, advindo daí resultados imprevistos, que são do agrado dos admiradores do trio.

Rádio Tupi, Propaganda de 1948
O que se dá com a face principal do disco, acontece com o lado que o completa. Também a partitura de Bixio e Cherubini é muito conhecida do grande público, pois foi muito divulgada por inúmeras orquestras e vocalistas. Entretanto, na interpretação do conjunto em questão, Serenata ao Luar ganha um novo colorido que, por certo, satisfará aos que a ouvirem.

Em suma, as gravações dos Three Suns, além de possuírem boa dose de valor artístico, são de valor comercial incontestável, porquanto agradam ao grande público.


Na foto: A Orquestra de Carioca, um dos mais homogêneos conjuntos do Brasil, gravou para a Odeon um disco em que interpreta o samba Na Baixa do Sapateiro, de Ary Barroso, e o choro Recordar é Viver, de Freire Junior, num arranjo de Cipó. No lado de Recordar é Viver apenas a orquestra intervém. Na face de Na Baixa do Sapateiro, porém, atua como solista Dircinha Batista. Boa vocalização e melhor interpretação. A página do irrequieto Ary Barroso ganha novas nuances na voz de Dircinha. Belíssima a orquestração de Carioca e superior a execução do seu festejado conjunto.

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