sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Diário da Noite, 08 de Julho de 1950

NOVO BOLERISTA

A Victor vem de apresentar, através de dois discos, um novo bolerista ao público brasileiro: Chito Galindo. Como acontece com a maioria dos boleristas que nos têm sido apresentados, também Chito Galindo não é mexicano, como se poderia supor, mas argentino. Todavia, pelo que demonstrou nestas suas gravações de apresentação, Chito Galindo será, com certeza, um novo ídolo dos apreciadores do bolero. Dono de um timbre de voz invulgar, de tonalidade máscula, cheia e vigorosa, além de ser possuidor de fina sensibilidade, pelo que demonstra através das suas interpretações, o jovem vocalista argentino, convenceu-nos.

Nestes seus dois primeiros discos Chito Galindo nos proporciona quatro boleros: Las Tres Cosas, Amor y Más Amor, Tu Felicidad e La Luna y El Sol. Dos quatro boleros, que interpreta com rara felicidade, Galindo, ao que nos pareceu, está melhor em Tu Felicidad, cuja melodia, de autoria do compositor francês René Touzet,[1] é muito bonita, sobressaindo-se o acompanhamento orquestral, excelente, especialmente a seção de violinos do conjunto, que executa um contracanto com o vocalista que é uma delícia. Todavia, isto não quer dizer que o cantor portenho esteja inferior nas demais gravações. Não; todas elas estão em níveis idênticos. A que mais nos agradou, porém, foi Tu Felicidad. Haverá, por exemplo, quem vá preferir Amor y Más Amor.

Chito Galindo
Mas isso é uma questão de gosto. O que desejamos frisar, entretanto, é que Chito Galindo está bem, como dissemos, em ambos os discos, isto é, nas quatro gravações. Mas, não sabemos se por causa da beleza da melodia ou pelo bonito tema da letra, o que é certo é gostamos mais da gravação do bolero Tu Felicidad.

Aliás, com referência ao mencionado bolero, desejamos fazer aqui duas observações. A primeira é que a etiqueta da Victor menciona Tu Felicidad como sendo uma canção. Na realidade, como dissemos, se trata de um bonito bolero. A segunda é o fato de o selo não mencionar o nome do conjunto que executa o magnífico acompanhamento. Isso, por sinal, não é só a Victor quem faz. A generalidade das gravadoras procede assim. É mais cômodo. Entretanto, por uma medida de justiça aos músicos que compõem as orquestras, cremos que os nomes dos conjuntos mereciam figurar no selo. Por que fazer menção apenas aos grandes conjuntos, ainda quando em execuções abaixo da crítica?

Rodolfo de Angelis
Voltando às gravações de Chito Galindo, desejamos apenas dizer que se trata de dois discos de bom padrão e de grande valor artístico e comercial.

Na foto: A orquestra típica Argentina de Rodolfo de Angelis, ao que parece, sumiu-se de vez dos suplementos das nossas gravadoras. Não estaria mais gravando? Impossível, pois Rodolfo de Angelis cuidava com carinho do seu conjunto, que chegou a ser considerado um dos melhores da Argentina. É pena uma ausência tão demorada assim dos suplementos de novidades.[2]

[1] Touzet na verdade era cubano.
[2] Não sei bem de onde J. tirou que o napolitano Rodolfo de Angelis tinha uma “orquestra típica argentina”. Talvez por conta de algum parceiro musical, ou pela canção Passione Argentina.

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