sábado, 30 de novembro de 2013

Diário da Noite, 27 de Julho de 1950

DUAS BOAS GRAVAÇÕES

Essa figura inconfundível de artista que é Edú, amigo inseparável de sua harmônica de boca, é figura de primeira plana dentre os artistas mundiais que contribuem para a valorização artística do bizarro instrumento. Graças a ele, Larry Adler, a Borrah Minevitch, e alguns outros, a gaita deixou de ser, como era comumente considerada, brinquedo de criança, ou algo de vulgar. Hoje, as gravações de Edú ou dos grandes artistas do instrumento, precisam ser analisadas com espírito artístico. As gravações de Edú e de Larry Adler, por exemplo, são de execuções requintadas, caprichosamente requintadas, e possuem dose imensa de espírito artístico do mais fino gosto.

O disco objeto das nossas considerações, onde estão gravadas as páginas Fumaça nos Teus Olhos e Arabescos, respectivamente de autoria de Jerome Kern e do próprio Eduardo Nadruz (Edú), são exemplos frisantes. Conquanto a página do compositor norte-americano seja mais comercial que artística, Edú fez questão de demonstrar, pelo seu arranjo, que se preocupa não só com o tema principal da melodia, bastante belo, senão também em demonstrar a sua técnica superior, rica em floreios gratos aos tímpanos. Em Arabescos, então, o artista se põe à vontade, não só por constituir uma partitura de sua lavra, mas porque foi elaborada especialmente, ao que parece, para que ele pusesse à prova o seu exuberante virtuosismo. Magnífico o arranjo e ótimo o acompanhamento do conjunto de cordas.

Edú da Gaita (foto do blog
http://riskas513.blogspot.com.br)
Jorge Goulart, como se sabe, é um dos mais prestigiosos cartazes do broadcasting carioca. É artista da etiqueta Continental, responsável pela gravação que vamos apreciar. Goulart, não faz muito, nos presenteou com várias gravações de real valor artístico, como aquele samba São Paulo, no qual canta a nossa metrópole como se fora um autêntico filho de Piratininga. Agora, o jovem vocalista nos endereça um disco no qual estão gravados Conheço Uma Cidade, interessante fox de Irving César, com palavras de Osvaldo Santiago, e uma marcha que, por pouco, não inutiliza o disco. O fox é de melodia romântica, bonitinho, dotado de letra feita com inteligência, que descreve certa cidade que o cantor diz conhecer, falando das suas ruas, das suas mulheres e não diz, no fim, quando o ouvinte espera que vai fazê-lo, o seu nome. Entretanto, o ouvinte de São Paulo, do Rio, de qualquer outra cidade ou Estado, identificará como sendo “a sua” a cidade descrita. Boa a orquestração e seguro o acompanhamento do conjunto.

Casa Ricordi
Na foto: Já tivemos ocasião de contar aos leitores deste cantinho de coluna que Yves Montand conseguiu, de simples e honrado operário de uma fundição em Marselha, transformar-se no maior cartaz parisiense do momento. Edith Piaf, famosa cançonetista gaulesa, foi quem, no início da carreira artística do chansonier ítalo-francês, lhe “deu a mão”, orientando-o e influindo no seu estilo, que, pouco a pouco, se transformou, fazendo dele o ídolo das noitadas de Paris. Yves está no Rio, cantando numa boate e numa transmissora. Dentro em pouco estará encantando o público paulista com sua bonita voz. Gravações recentes, em edição nacional, da Odeon: Clopin-Clopant, A Paris, Matilde, Meu Doce Vale e As Folhas Mortas.

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