sábado, 30 de novembro de 2013

Diário da Noite, 22 de Julho de 1950

CAMPEÃO DE VENDAS 

Luiz Gonzaga, como se sabe, é um legítimo campeão do disco. Suas gravações atingem vendas espetaculares, conseguindo “records” que dificilmente serão superados. Suas composições são do agrado geral, daí o sucesso dos seus discos. Dizem – e não conseguimos dados positivos a respeito – que Luiz Gonzaga recebe trimestralmente, como é de praxe, de direitos autorais, perto de trezentos mil cruzeiros ou quase cem mil cruzeiros mensais! Talvez vá nesse cálculo algum exagero. Todavia, que a sua renda, aliás, merecida, em conseqüência das suas músicas e gravações, deve ser grande, não resta a menor dúvida.

Nasceu Luiz Gonzaga no sertão pernambucano, numa sexta-feira, dia 13, do ano de 1912. O azar do dia do seu nascimento, porém, não pegou nele. Ao contrário, como vimos, é um sujeito de sorte. Em 1939, há onze anos, portanto, desembarcou, meio desajeitado, no Rio de Janeiro, procedente do seu Pernambuco, sobraçando a pesada sanfona. E foi logo conquistando de assalto a admiração do público carioca com os seus baiões, cujo ritmo, como se sabe, é extraído do exuberante folclore nordestino. Conquistado pelo rádio, o seu prestígio artístico se espalhou por todo o país, já tendo transposto as fronteiras e chegando a Hollywood, onde lhe estão mutilando as composições.

Luiz Gonzaga
Depois de divulgar o baião, que é a “coqueluche” do momento, e a toada, cujo marco inicial foi aquela deliciosa Asa Branca, Luiz Gonzaga procura agora popularizar o xote e o côco, um novo ritmo que ele, com o seu faro de constante pesquisador, conseguiu descobrir. Entretanto, não é desse novo ritmo que desejamos falar. Oportunamente o faremos. O xote e a toada, melodias, que fazem parte do disco que temos em mão, intituladas, respectivamente, Cintura Fina e Assun Preto é o que desejamos focalizar hoje. O próprio Luiz Gonzaga é o autor de ambas as partituras e ele mesmo canta e se acompanha à sanfona, secundado por um pequeno conjunto regional. Cintura Fina, além de possuir música e ritmos provocantes, é dotada de uma letra curiosa, impregnada de malícia, mas de malícia simples, sadia, sem maldade e sem ofender, dosada com inteligência.

Gonzaga
A toada Assun Preto é algo tristonho. Conta a história de um velho pássaro, que mãos maldosas cegaram, o que deu motivo a que o seu trinar e seus gorjeios se tornassem ainda mais belos. Dignas de observação a letra e a música dessa toada, pois possui dose imensa de inspiração e encerra muita poesia. E Luiz a canta com alma e coração, resultando uma belíssima gravação, no gênero.

As gravações propriamente ditas, feitas pela Victor, tecnicamente também estão perfeitas. Aliás, Luiz Gonzaga é exigente neste particular. Quando vai gravar e se põe diante ao microfone, ele próprio faz questão de colocar os acompanhantes em lugares previamente por ele estudados, para depois perpetuar na massa aquilo que a sua inspiração lhe ditou.

O disco em questão, pelo exposto, será fatalmente um grande sucesso comercial.

Na foto: Peter Kreuder é um pianista bastante discutido. Apesar disso, possui verdadeira legião de fãs. Os que não apreciam o estilo do popular pianista germânico são, precisamente, os entendidos........ ......... de Kreuder, dos clássicos, são de uma irreverência de espantar. O grande público, porém, se delicia com os malabarismos e as filigranas de Peter Kreuder. Grava para a Victor e a lista dos seus discos para a etiqueta do cachorrinho é extensa.

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