segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Diário da Noite, 19 de Abril de 1950

EXPORTAÇÃO DE DISCOS

Ao que se anuncia, a Continental, após uma série de entendimentos com diversas gravadoras estrangeiras, das Américas e da Europa, vai exportar para o exterior matrizes de gravações nacionais e, como permuta, receberá matrizes das empresas com as quais entabulou contrato.

É das mais louváveis a iniciativa da Continental, embora a exportação da nossa música popular, se bem que, em pequena escala, não seja nenhuma novidade, pois a Odeon que, no Brasil, representa diversas etiquetas estrangeiras, já o fazia há algum tempo.

Não temos notícia do critério que adotará a referida empresa para a exportação das matrizes. É de esperar-se que a questão tenha sido estudada e planejada com o cuidado que merece. Não nos parece aconselhável a exportação de tudo o que aqui se produz. Sinceramente, há composições nossas que nunca deveriam ser levadas à cera, quanto mais ser exportadas para o exterior. Sabemos, por exemplo, que o critério adotado pela Odeon é dos mais rígidos. Apenas as boas composições, gravadas por artistas e conjuntos orquestrais de real valor, é que conseguem transpor as nossas fronteiras sob a responsabilidade do famoso selo. A Continental, com toda a certeza, não será tão rigorosa, pois ao que se anuncia, até a matriz de General da Banda[1] será exportada!


No Brasil, felizmente, ainda se faz boas coisas em matéria de música popular. Um povo que, por religioso, ainda assiste e participa de procissões; um país de rico folclore como o nosso; um povo que ainda não foi embrutecido, está claro que é rico em espiritualidade, capaz, portanto, de grandes coisas em matéria de música, popular ou clássica. Ora, não será exportando coisas más que iremos demonstrar ao alienígena a nossa riqueza espiritual, a nossa sensibilidade, a nossa arte, enfim.

Norma Ardanuy
Louvamos, repetimos, a iniciativa da Continental. O Brasil, de fato, pelo menos através da sua música popular, precisa ser conhecido no exterior. Mas se não houver certo critério, aliás usado por outras gravadoras, exportando, inclusive, as nossas más produções populares, iremos dar ao estrangeiro falso retrato do Brasil, quando não ridículo.

Que pensem nisso os dirigentes da Continental.

Na foto: Norma Ardanuy é uma jovem de sorte. Com menos de um ano de broadcasting já conseguiu um contrato para gravar. Das várias empresas que assediaram a talentosa artista, a Odeon venceu a parada e os promete, para muito breve, os discos de Norma. Uma das primeiras gravações dessa nova estrela do disco, é o samba Mania de Grandeza.



[1] Samba de 1949, composto por Tancredo Silva, Sátiro de Melo e José Alcides e que foi sucesso na voz de Blackout.

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