NÍVEL ARTÍSTICO
É público e notório que a indústria do disco, no
Brasil, já atingiu a níveis superiores. As gravações aqui executadas são tão
perfeitas, quanto as melhores do mundo. Talvez leve alguma desvantagem no
respeitante à acústica. Não possuímos ainda técnicos em número suficiente nesse
setor. Mesmo assim, prodígios são conseguidos, entre nós, na ciência do som.
Aliás, fácil será constatar isso. Basta o comparar-se o disco de fabricação
nacional e o importado, prensados sob os moldes da mesma matriz. Não há
diferença, quase.
Também no setor artístico o nível dos nossos
discos é superior. Ultimamente, então, verdadeira revolução está se processando
na indústria gravadora no campo artístico. Novos valores surgiram. Conjuntos
orquestrais numerosos são utilizados, sendo abolidos os clássicos regionais,
com cavaquinho, violão e pandeiro. Custou, mas as firmas gravadoras nacionais
compreenderam que para que a música brasileira tivesse aceitação fora das
nossas fronteiras era preciso tirar-lhe a roupinha precária e surrada e
dar-lhes nova fatiota, casaca, se possível, com grandes conjuntos e
orquestrações, a fim de que lhe fossem abertas as largas e luxuosas portas dos
grandes salões do mundo.
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A Continental, a Odeon, a Elite, a Victor, dia a
dia, procuram melhorar, especialmente a sua parte orquestral. Dessas quatro
etiquetas, as mais populares, apenas a Victor, como tivemos ocasião de frisar
aqui, por mais de uma vez, insiste em apresentar acompanhamentos com regional.
Estamos certos, todavia, que a sua direção artística, depois das críticas de
que tem sido alvo, não de nossa parte, que não somos críticos, mas simples
amantes do disco, mas da crítica em geral, procurará colocar as suas gravações
populares nacionais, no respeitante a orquestras e orquestrações, no mesmo
nível das demais gravadoras.
É portanto com indisfarçável prazer que
observamos esse desenvolvimento industrial e artístico do disco. Isso demonstra
que o nível cultural do povo está melhorando. Já existe o sentido artístico.
Seus ouvidos, conseqüentemente, estão mais exigentes. E seu gosto, assim, vai
se apurando dia após dia. Tanto é assim, que uma emissora da capital da
República, de propriedade da União, também vai explorar a indústria do disco.
Ao que se anuncia, porém, os seus lançamentos estão sendo cuidadosamente
planejados. Dedicar-se-á exclusivamente à música nacional, carinhosamente
escolhida, a fim de serem levadas à cera por renomados artistas brasileiros que
lhe darão tratamento caprichoso, especialmente nas orquestrações, que serão
feitas por renomados valores, e executadas por consagrados artistas que
formarão o grande conjunto da nova gravadora.
Largas perspectivas, portanto, como se vê, estão
reservadas à música e aos artistas nacionais. Conseqüentemente, à indústria do
disco em nossa terra.
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Orquestra Tabajara em 1945, com o Maestro Severino Araújo à direita |
Na foto: Iniciativa digna dos melhores encômios
a da Continental, ao lançar, dentro em pouco, dois álbuns comemorativos do
Campeonato Mundial de Foot-Ball. Nestes álbuns constarão gravações dos hinos e
marchas de todos os clubes do rio e de São Paulo – os maiores centros
esportivos do Brasil – que fazem parte da primeira divisão. Ouvimos as
primeiras provas dos discos que comporão esses álbuns e pudemos constatar da
sua perfeição técnica, industrial e artística. Déo, que vemos no clichê (quando
ainda tinha vasta cabeleira...) e Jorge Goulart vocalizam as partituras,
secundados pelo Trio Melodia e pelo conjunto Tabajara, regido pelo paraibano
Severino Araújo. Espetaculares orquestrações.
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