sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Diário da Noite, 13 de Julho de 1950

ESTRÉIA AUSPICIOSA

Essa figurinha graciosa e insinuante, que irradia simpatia e conquista todos os que dela se acercam, de sorriso largo e contagiante sempre a florir-lhe os lábios, pondo à mostra alva e sadia dentadura, e que todo São Paulo conhece pelo nome de Hebe Camargo, acaba de se transformar, além de prestigiosa estrela do rádio paulista, num promissor cartaz do disco. É que Hebe Camargo, conforme tivemos ocasião de noticiar, há dias, gravou o seu primeiro disco sob a responsabilidade da etiqueta Odeon, que a conquistou para a sua respeitável constelação. Ouvimos as provas das primeiras gravações da estrelinha das Emissoras Associadas e ficamos deveras impressionados com a performance da vocalista paulista. Ela canta dois sambas: Oh! José, de Esmeraldino Sales e Ribeiro Filho e Quem Foi que Disse?, de Gabriel Aguiar e Valadares do Lago. O disco, em ambas as gravações, está 100% perfeito. Hebe vocaliza os dois sambas com muita personalidade. Aliás, o público de São Paulo conhece de sobejo o estilo superior de Hebe, através de suas atuações ao microfone da Tupi-Difusora. Com sinceridade, não sabemos em qual das faces a estrela paulista está melhor. Em Oh! José que, diga-se de passagem, é uma composição bem bonitinha, valorizada pela letra interessante de Ribeiro Filho, ela porta-se com desenvoltura digna de nota, como se já gravara muitas vezes comercialmente. Aquela sua pronúncia do nome “José” mexe com a gente...

Na face que completa o disco, onde canta Quem Foi que Disse?, há mais movimento, pois o samba é de ritmo mais acentuado. A vocalista diz a letra com muita segurança e desembaraço, sendo digna de observação a clareza da sua dicção, coisa que nem todos os artistas – alguns até veteranos em gravações – têm conseguido, por possuírem graves defeitos de califasia.

Além da parte vocal perfeita, há o acompanhamento orquestral que, por sua vez, se faz credor da nossa admiração. A etiqueta Odeon não faz referência ao autor da orquestração nem ao conjunto que a executa. Todavia, a impressão que tivemos é de que o responsável pela orquestração e pelo conjunto não pode ser outro senão o paulista Carioca.

Hebe Camargo
Uma estréia feliz a de Hebe Camargo no mundo dos discos. Estamos certos de que essa sua primeira cera, que está programada entre os lançamentos Odeon para agosto próximo, a colocará como com justiça o merece pelo seu valor artístico, entre as primeiras – senão a primeira – vocalistas, no gênero, do Brasil.

Um disco que se recomenda.

Parabéns, Hebe.


Na foto: Hebe Camargo, a estrelinha das Emissoras Associadas, com a sua primeira cera, gravada com rara felicidade, está destinada a figurar na primeira plana da lista dos melhores artistas do disco, em seu gênero.[1]


[1] A querida Hebe Camargo se foi em meio à elaboração deste trabalho. É pena não ter podido mostrar-lhe esta crítica de sua primeira gravação, e o carinho que lhe dedicou J. Pereira.

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