sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Diário da Noite, 17 de Junho de 1950

DOIS CARTAZES PAULISTAS

Diversos valores da música popular brasileira, radicados em São Paulo, conseguiram impor-se, pelo seu talento, no conceito do público. Nada mais razoável do que serem lembrados pelas gravadoras. Já não se fala em Isaura Garcia, que já faz alguma tempo está sob contrato da RCA Victor. Mas, de Hebe Camargo, Norma Ardanuy, Risadinha e Neyde Fraga. Todos eles, como se vê, nomes há muito firmados na admiração dos rádio-ouvintes brasileiros. Todavia, só agora foram lembrados pelas gravadoras. Hebe Camargo e Norma Ardanuy, artistas das Emissoras Associadas, estão sob contrato da Odeon, o mesmo acontecendo com Risadinha; e Neyde Fraga foi contratada pela etiqueta Elite, cujo diretor artístico, o dinâmico Alberto Ergas, pretende contratar outros positivos valores do rádio paulista para o seu selo. Os artistas paulistas, assim, como se vê, embora tardiamente, já começam a ser cobiçados pelas firmas gravadoras.

Vamos apreciar, em nossa nota de hoje, dois discos de artistas de São Paulo. O primeiro, gravado por Norma Ardanuy, cantando dois sambas: Mania de Grandeza, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme; e Não Quero Voltar, de José Roy e O. Monelo. O outro é gravado por Risadinha, vocalizando o samba de O. França e A. Lima, Baburiba no Samba e A Nêga Já Sabe, um samba-choro que leva as assinaturas de Haroldo Lobo e Milton Oliveira.

Diário de S. Paulo, 30/4/50
Ambas as gravações estão muito boas. Norma Ardanuy, que todos aprendemos a admirar, através de suas audições na Cidade do Rádio, nos dá uma Mania de Grandeza muito curiosa e um Não Quero Sambar, em nossa opinião melhor ainda. A orquestra de Carioca é que executa o acompanhamento. E o faz como só Carioca seria capaz. Magnífica a estréia da estrelinha associada na etiqueta Odeon.

Risadinha, por seu turno, nos proporciona um Baburiba no Samba espetacular. Confessamos que quando do seu primeiro disco para a etiqueta da rua da Liberdade – Faran-Fan-Fan – receamos pelo seu fracasso. Todavia, essa apreensão, que reservamos para fazer um juízo definitivo quando de sua próxima gravação, desanuviou-se ao ouvirmos a sua interpretação do samba de O. França e A. Lima. Perfeita. Além disso, Risadinha bisa a sua performance da face A no lado de A Nêga Já Sabe, o mesmo ocorrendo com o acompanhamento orquestral, que é excelente. Como se vê, São Paulo demonstra, através desses dois ótimos discos, que também sabe cantar samba.

Risadinha
Na foto: O conjunto orquestral de Artie Shaw foi um dos mais prestigiosos dos Estados Unidos. Entretanto, conquistado pelo cinema, Artie se encheu de vento, desgostando os componentes da orquestra que, não demorou muito, foi desfeita. Daí para cá o popular regente e clarinetista tem procurado formar uma conjunto senão igual, pelo menos semelhante àquele que não soube conservar. Inutilmente. Em conseqüência, sua popularidade tem decrescido sobremaneira. Poucos discos tem gravado ultimamente e os que nos tem chegado são de valor artístico bastante discutível. É de esperar-se, todavia, que Artie consiga organizar um conjunto como aquele dos seus áureos tempos. Vontade e capacidade, pelo menos, não lhe faltam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário