GRAVAÇÕES INTERESSANTES
Vamos apreciar, em nossa nota de hoje, dois
discos, por sinal muito interessantes. O primeiro deles é o gravado por Ernesto
Bonino, vocalista italiano, cantando dois sambas: Isto é Brasil e Um
Cantinho em Você.
Confessamos que foi com reserva que nos
dispusemos a ouvir esse disco. Como tivemos ocasião de dizer, por essas mesmas
colunas, não gostamos de ver artistas de um gênero, apenas para contentar
meia-dúzia de fãs que conquistou à última hora, interpretar coisas fora do seu
estilo. E isso porque o desastre é fatal.
Já citamos exemplos ao comentar outro
disco, ainda da Continental, gravado por outro intérprete peninsular.
Demonstramos que o próprio Tito Schipa, cuja voz invulgar não cansamos de
admirar, fracassou muitas vezes ao gravar melodias que fugiam do seu estilo
habitual. Um tango, por exemplo, gravado por ele há tempos pode ser tudo, menos
um tango, em que pese a sua vocalização primorosa.
![]() |
Ernesto Bonino |
Todavia, Ernesto Bonino nos surpreendeu. Ao
colocarmos a agulha sobre a face de Um Cantinho em Você e ele começou a
cantar, ficamos espantados ao verificar como o rapaz assimilou bem o ritmo e o
estilo langoroso de Dick Farney. Além do mais, ele canta em português, o que
deve ter tornado mais difícil a interpretação. Diga-se de passagem que Bonino
não “amacarrona” o português, a não ser nos “r” e na palavra “tranqüila” que
ele pronuncia tranquila, com o “u” mudo. As demais ele as pronuncia com
correção. A face oposta do disco, Isto é Brasil, embora constitua a face
A, para nós é mais fraca, ainda que Bonino a ela também empreste boa
vocalização e interpretação. Aquele seu “Oba, rapazes!” está uma delícia.
Magnífico o acompanhamento orquestral.
O outro disco a que nos referimos é o gravado
por Michel Allard, cantando Formidable e Mes Jeunes Anées, ainda
para a Continental. Gostamos imensamente da limpidez deste disco, em ambas as
faces. A bonita voz de Michel Allard foi captada com rara felicidade pelo
técnico, oferecendo-nos, assim, um Formidable muito mais interessante do
que o que nos deu Charles Trenet.
Rádio Record - Diário da Noite, 13/3/1950 |
Ainda neste disco gostamos mais da face B,
onde Michel Allard nos pareceu mais à vontade e a melodia, menos vibrátil haver
possibilitado ao festejado chansonier demonstrar o seu belo timbre
vocal.
Eis aí, portanto, dois discos que se recomendam.
Na foto: Eis uma artista que dispensa qualquer
apresentação. De fato, Adelina Garcia, das intérpretes astecas é talvez, a mais
aplaudida em todo o mundo. O bolero Hipócrita, que ela gravou para a
Odeon, recentemente, obteve venda “record”. Em muitas revendedoras, por sinal,
já não é mais possível encontrá-lo.
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