quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Diário da Noite, 23 de Maio de 1950

APRESENTAÇÃO CONVINCENTE

Não conhecíamos a voz de Luciano Tajoli, um dos mais aplaudidos cantores italianos da nova geração. Foi, assim, com curiosidade, que ouvimos o seu primeiro disco lançado no Brasil, através da etiqueta Odeon. O jovem cançonetista nos apresenta as melodias Fala-me de Amor Mariú e A Canção do Amor, ambas de autoria do popular compositor peninsular, C. A. Bixio.

Como o título da crônica sugere, foi das mais convincentes a apresentação de Luciano Tajoli. Gostamos, sinceramente, do seu estilo, muito pessoal, fugindo à regra geral dos vocalistas italianos, que adoram as notas altas para demonstrar a sua potência vocal. Aliás, particularmente, condenamos tal estilo. Não faz muito, ao apreciarmos várias gravações do barítono Gino Bechi tivemos ocasião de fazer alguns reparos à sua maneira de interpretar melodias populares. Com efeito, que o aplaudido barítono do Scala, que o cinema italiano popularizou em todo o mundo, dê vazão à sua potência vocal, sem dúvida admirável, ao cantar óperas, compreende-se. Entretanto, ele vocaliza melodias populares como se estivesse interpretando árias das mais difíceis. O resultado é fatal: suas gravações de música popular, quase todas, saem imperfeitas, foscas e estridentes, pois o técnico, apesar de todo o malabarismo que deve, sem dúvida, ter feito, não conseguiu eliminar a vibração excessiva da voz do cantor junto ao microfone, em virtude do exuberante vigor a ela imprimido sem nenhuma necessidade.

Gino Bechi
É bem provável que, expondo o nosso ponto de vista, sincero, sobre a maneira de Gino Bechi cantar músicas populares, estejamos magoando os seus incontáveis fãs de São Paulo. Tanto mais que o sempre risonho cantor está prestes a realizar uma temporada entre nós. Mas se esses mesmos fãs, que naturalmente possuirão discos na voz de Gino, se derem ao trabalho de analisá-los cuidadosamente, com espírito honesto de crítica, verão que temos razão.

Ora, Luciano Tajoli, como dizíamos, foge por completo ao estilo comum dos vocalistas italianos. As melodias por ele interpretadas são vocalizadas naturalmente, nem muito alto nem muito baixo. São, com efeito, cantadas. E cantadas com arte. Deste seu primeiro disco gostamos mais da sua interpretação em Parlami D’Amore Mariú, que é original e suavíssima.

Luciano Tajoli
Secundado de maneira magnífica pela orquestra de Maraviglia, Parlami D’Amore Mariú se transforma no protótipo da face confortante. O lado oposto do disco é mais fraco entretanto, Tajoli imprime à A Canção do Amor um tratamento muito interessante.

Trata-se, como dissemos, de um disco de apresentação. É de esperar-se, assim, que as futuras gravações de Luciano Tajoli obedeçam igual padrão.

Na foto: Este é Luciano Tajoli, cantor italiano ainda desconhecido do público brasileiro, cuja primeira gravação lançada entre nós, pela Odeon, é motivo das nossas notas de hoje. O jovem vocalista está fadado a conquistar legiões de fãs entre nós, pois a sua maneira de cantar é muito interessante e original. Imitadores não lhe faltarão.

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