terça-feira, 19 de novembro de 2013

Diário da Noite, 05 de Maio de 1950

GRAVAÇÃO CURIOSA

Dentre as gravações chegadas recentemente da Inglaterra, fomos encontrar um disco da Parlophone que está destinado, temos a certeza, a grande sucesso quando for lançado aqui, em edição brasileira pela Odeon. Como se sabe, esta etiqueta distribui, no Brasil, sob sua responsabilidade, os discos Parlophone.

O disco a que nos referimos encerra, de um lado, o famoso tanguinho Dengoso, do nosso querido Ernesto Nazareth, em execução de Roberto Inglez e sua orquestra, do Savoy Hotel, de Londres, apresentado em ritmo de samba. Todavia, se essa transformação pode causar decepção aos admiradores do grande compositor popular, pela introdução do elemento afro-brasileiro na orquestração, não se poderá negar, contudo, que o arranjo resultou num ótimo samba, a que não faltam todos os elementos essenciais ao gênero. O autor do arranjo, felizmente, não sacrificou o espírito e o caráter eminentemente pianístico da página de Nazareth, mantendo sempre o piano em primeiro plano.

O que é de admirar-se, entretanto, é que uma orquestra inglesa haja podido dar à música dançante brasileira todo o calor que ela requer, sem o sacrifício da pureza e da vitalidade do ritmo, bem assim do sensualismo que lhe é inerente.

"Dengoso" editado nos Estado Unidos em 1914, quando o tango de Nazareth recebeu a inacreditável definição de "Maxixe Tango" e de "Música Creole - A Música das danças sul-americanas" (do excelente site http://www.ernestonazareth150anos.com.br/)
Recorda-se que, não faz muito, a Odeon nos proporcionou o samba Rio de Janeiro, de Ary Barroso, pelo mesmo conjunto, em excelente execução da mesma orquestra do Savoy Hotel, de Londres, e que obedece à inteligente orientação do maestro Roberto Inglez. Daí o esperarmos que a gravadora da rua da Liberdade não deixe de incluir, nos próximos lançamentos, em edição nacional, para maior facilidade de aquisição ao discófilo, esse magnífico Dengoso pelo aludido conjunto, já que ela representa, no Brasil, a etiqueta Parlophone. Aguardaremos.

Na foto: Como o leitor deve estar lembrado, apreciamos, faz poucos dias, uma gravação da orquestra de Osvaldo Norton, aliás executada há mais de cinco anos, e estranhamos tenha a Odeon feito esse lançamento precisamente no momento em que o apreciado regente e seu conjunto se achavam em São Paulo, comprometendo, assim, o seu enorme, pois o conjunto de há cinco anos estava longe de ser o que é hoje e a gravação deixa muito a desejar. A famosa etiqueta poderia lançar gravações mais recentes, inclusive até de outros artistas, mas cujo acompanhamento tenha sido executado pelo conjunto do artista argentino, a maioria dos quais, excelentes. A brincadeira de se haver lançado como nova, uma gravação de há cinco anos, certamente não deve ter agradado a Osvaldo Norton...

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