GRAVAÇÃO CURIOSA
Dentre as gravações chegadas recentemente da
Inglaterra, fomos encontrar um disco da Parlophone que está destinado, temos a
certeza, a grande sucesso quando for lançado aqui, em edição brasileira pela
Odeon. Como se sabe, esta etiqueta distribui, no Brasil, sob sua
responsabilidade, os discos Parlophone.
O
disco a que nos referimos encerra, de um lado, o famoso tanguinho Dengoso,
do nosso querido Ernesto Nazareth, em execução de Roberto Inglez e sua
orquestra, do Savoy Hotel, de Londres, apresentado em ritmo de samba. Todavia,
se essa transformação pode causar decepção aos admiradores do grande compositor
popular, pela introdução do elemento afro-brasileiro na orquestração, não se
poderá negar, contudo, que o arranjo resultou num ótimo samba, a que não faltam
todos os elementos essenciais ao gênero. O autor do arranjo, felizmente, não
sacrificou o espírito e o caráter eminentemente pianístico da página de
Nazareth, mantendo sempre o piano em primeiro plano.
O que é de admirar-se, entretanto, é que uma
orquestra inglesa haja podido dar à música dançante brasileira todo o calor que
ela requer, sem o sacrifício da pureza e da vitalidade do ritmo, bem assim do
sensualismo que lhe é inerente.
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"Dengoso" editado nos Estado Unidos em 1914, quando o tango de Nazareth recebeu a inacreditável definição de "Maxixe Tango" e de "Música Creole - A Música das danças sul-americanas" (do excelente site http://www.ernestonazareth150anos.com.br/) |
Recorda-se que, não faz muito, a Odeon nos
proporcionou o samba Rio de Janeiro, de Ary Barroso, pelo mesmo conjunto,
em excelente execução da mesma orquestra do Savoy Hotel, de Londres, e que
obedece à inteligente orientação do maestro Roberto Inglez. Daí o esperarmos
que a gravadora da rua da Liberdade não deixe de incluir, nos próximos
lançamentos, em edição nacional, para maior facilidade de aquisição ao
discófilo, esse magnífico Dengoso pelo aludido conjunto, já que ela
representa, no Brasil, a etiqueta Parlophone. Aguardaremos.
Na foto: Como o leitor deve estar lembrado,
apreciamos, faz poucos dias, uma gravação da orquestra de Osvaldo Norton, aliás
executada há mais de cinco anos, e estranhamos tenha a Odeon feito esse
lançamento precisamente no momento em que o apreciado regente e seu conjunto se
achavam em São Paulo, comprometendo, assim, o seu enorme, pois o conjunto de há
cinco anos estava longe de ser o que é hoje e a gravação deixa muito a desejar.
A famosa etiqueta poderia lançar gravações mais recentes, inclusive até de
outros artistas, mas cujo acompanhamento tenha sido executado pelo conjunto do
artista argentino, a maioria dos quais, excelentes. A brincadeira de se haver
lançado como nova, uma gravação de há cinco anos, certamente não deve ter
agradado a Osvaldo Norton...
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