DESCUIDO LAMENTÁVEL
Não temos a veleidade ser críticos. Temos
procurado, neste cantinho dedicado ao mundo dos discos, simplesmente tecer
considerações sobre as últimas gravações lançadas pelas firmas gravadoras
nacionais e pelas empresas estrangeiras que aqui não sejam representadas pelas
etiquetas brasileiras, com o intuito de esclarecer, na medida do possível, os
leitores a respeito dos discos que a nós se nos apresentam bons e sobre os que
nos parecem fracos ou falhos, de acordo com o nosso ponto de vista. Esse o
nosso objetivo. E quando o fazemos é com o espírito construtivo, chamando a
atenção das gravadoras para que de futuro, corrijam os reparos apontados.
Ora, é com o objetivo construtivo de sempre que
alinhamos as nossas notas de hoje. E fazemo-lo para chamar a atenção dos
responsáveis pela etiqueta Victor e convidá-los e examinar bem o seu último
suplemento de gravações populares. Com toda a honestidade fazemos esse convite.
Do punhado de discos que lançaram, pouquíssimos são os que se salvam. Não se
trata de qualidade industrial do disco Victor que, como se sabe, é superior.
Mas do padrão artístico. Há poucos dias tivemos ocasião de ouvir as provas dos
últimos discos da tradicional gravadora e, com tristeza, constatamos isso. Enquanto
as demais etiquetas fazem tudo para aprimorar o seu repertório popular, a marca
do cachorrinho, de maneira incompreensível, prensa discos populares de padrão
inferior. Por exemplo: os demais selos baniram quase que por completo os
acompanhamentos de regional, substituindo-os por conjuntos orquestrais. Alguns
até por grandes equipes musicais. A Victor, não sabemos por que, insiste no
regional. Além disso, a seleção das músicas que tem levado à cera é precária. E
isto é mau. Desacredita a reputação da etiqueta, tão bem representada no
repertório de música fina, que é o seu forte, e no de melodias internacionais
onde se encontram magníficas gravações.
![]() |
Francisco Carlos |
Para corroborar estas considerações, basta
citar-se, entre outros que poderíamos evocar, o exemplo típico do disco de
Francisco Carlos, dono de uma voz muito interessante mas desperdiçada nas
gravações do samba Você Não Sabe Amar e do bolero Timidez,
composições fraquíssimas, especialmente o samba, cuja letra, boçalíssima,
casou-se bem com a melodia (?!) sem qualquer expressão. Este é apenas um
exemplo.
Que as nossas observações encontrem eco na
direção artística da Victor para que os próximos suplementos populares da
etiqueta voltem a obedecer o alto padrão de outrora e que ainda conserva no
campo da música fina e no repertório popular internacional, são os nossos
ardentes votos.
Rádio Tupi Difusora - Diário da Noite, 19/5/1950 |
Na foto: Fernando Albuerne, el trovador del
Caribe, é uma das últimas conquistas da Odeon em matéria de boleristas.
Dono de uma bonita voz e intérprete de rara sensibilidade, Albuerne com os
poucos discos que gravou já conquistou grande número de admiradores. O próprio
cartaz de Gregorio Barrios se acha ameaçado com o aparecimento do el
trovador del Caribe. Seu último sucesso foi Ay de Mi, que já
comentamos.
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