quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Diário da Noite, 24 de Maio de 1950

DESCUIDO LAMENTÁVEL

Não temos a veleidade ser críticos. Temos procurado, neste cantinho dedicado ao mundo dos discos, simplesmente tecer considerações sobre as últimas gravações lançadas pelas firmas gravadoras nacionais e pelas empresas estrangeiras que aqui não sejam representadas pelas etiquetas brasileiras, com o intuito de esclarecer, na medida do possível, os leitores a respeito dos discos que a nós se nos apresentam bons e sobre os que nos parecem fracos ou falhos, de acordo com o nosso ponto de vista. Esse o nosso objetivo. E quando o fazemos é com o espírito construtivo, chamando a atenção das gravadoras para que de futuro, corrijam os reparos apontados.

Ora, é com o objetivo construtivo de sempre que alinhamos as nossas notas de hoje. E fazemo-lo para chamar a atenção dos responsáveis pela etiqueta Victor e convidá-los e examinar bem o seu último suplemento de gravações populares. Com toda a honestidade fazemos esse convite. Do punhado de discos que lançaram, pouquíssimos são os que se salvam. Não se trata de qualidade industrial do disco Victor que, como se sabe, é superior. Mas do padrão artístico. Há poucos dias tivemos ocasião de ouvir as provas dos últimos discos da tradicional gravadora e, com tristeza, constatamos isso. Enquanto as demais etiquetas fazem tudo para aprimorar o seu repertório popular, a marca do cachorrinho, de maneira incompreensível, prensa discos populares de padrão inferior. Por exemplo: os demais selos baniram quase que por completo os acompanhamentos de regional, substituindo-os por conjuntos orquestrais. Alguns até por grandes equipes musicais. A Victor, não sabemos por que, insiste no regional. Além disso, a seleção das músicas que tem levado à cera é precária. E isto é mau. Desacredita a reputação da etiqueta, tão bem representada no repertório de música fina, que é o seu forte, e no de melodias internacionais onde se encontram magníficas gravações.

Francisco Carlos
Para corroborar estas considerações, basta citar-se, entre outros que poderíamos evocar, o exemplo típico do disco de Francisco Carlos, dono de uma voz muito interessante mas desperdiçada nas gravações do samba Você Não Sabe Amar e do bolero Timidez, composições fraquíssimas, especialmente o samba, cuja letra, boçalíssima, casou-se bem com a melodia (?!) sem qualquer expressão. Este é apenas um exemplo.

Que as nossas observações encontrem eco na direção artística da Victor para que os próximos suplementos populares da etiqueta voltem a obedecer o alto padrão de outrora e que ainda conserva no campo da música fina e no repertório popular internacional, são os nossos ardentes votos.

Rádio Tupi Difusora - Diário da Noite, 19/5/1950

Na foto: Fernando Albuerne, el trovador del Caribe, é uma das últimas conquistas da Odeon em matéria de boleristas. Dono de uma bonita voz e intérprete de rara sensibilidade, Albuerne com os poucos discos que gravou já conquistou grande número de admiradores. O próprio cartaz de Gregorio Barrios se acha ameaçado com o aparecimento do el trovador del Caribe. Seu último sucesso foi Ay de Mi, que já comentamos.

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