A Continental vem de colocar nas revendedoras
várias gravações feitas pelos seus melhores cartazes: Emilinha Borba, Blackout,
Déo e Marlene. Samba, maracatú, rancheira, choro, bolero e bolero-mambo são os
ritmos que fomos encontrar nas gravações em apreço. Emilinha Borba, por
exemplo, nos proporciona Vizinho do 57, um chorinho interessante, cuja
letra nos conta a história de uma jovem que morava no 59 e apaixonou-se pelo
vizinho do 57. todavia, a vizinha do 55 seduziu o rapaz do 57, que a preferiu à
do 59, que é quem conta a história. O tema das palavras é, como se vê,
banalíssimo. Entretanto, as imagens usadas pelo autor da letra, René
Bittencourt, também responsável pela música, são muito interessantes, com muita
poesia, agradando. Na face oposta, Emilinha nos oferece um bolerinho-mambo
gostoso: Bico-Doce, de autoria de H. Barbosa. Apesar de ser uma composição
mais destinada aos dançarinos, dado o seu ritmo gostosamente balanceante, temos
quase a certeza, vai ser um retumbante sucesso comercial, pois além de possuir
música facilmente guardável pelo subconsciente, tem uma letra pequenina, fácil
de aprender. Daqui a pouco, toda a cidade estará cantando Bico Doce.
Tanto em Vizinho do 57, como em Bico Doce, Emilinha Borba está
muito bem, cantando com desembaraço. Está melhor, porém, assim nos parece, em Bico
Doce. O acompanhamento é feito pelo conjunto Tabajara, regido por Severino
Araújo.
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Emilinha Borba |
Marlene, por seu turno, gravou a rancheira O
Casamento de Rosa e o maracatú Cambinda Briante, de Evaldo Rui e
Fernando Lobo. Quem olhar para a etiqueta do disco e topa com o título do
maracatú, Cambinda Briante, vai achar estranho esse título por não
entender o seu significado. Entretanto, ouvindo-se a gravação, ficar-se-á
sabendo que Cambinda Briante é uma cena folclórica do exuberante, bizarro, mas
apaixonadamente curioso folclore nordestino. A interpretação de Marlene, neste
maracatú, cuja face está superior ao Casamento de Rosa, não poderia ser
mais convincente. Excelente o acompanhamento de Severino Araújo com a orquestra
Tabajara. Digno de observação o bateria do conjunto, que desde o primeiro ao
último sulco da gravação está presente, marcando o ritmo acentuado do maracatú,
o que, aliás, acontece também na gravação de Bico Doce, de Emilinha
Borba.
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Marlene |
Déo, infelizmente, não nos convenceu, quer com o
bolero Desesperança, de Alberto Lopes e Wolkoff ou na valsa que completa
o disco. O cantor paulista, radicado há muito tempo no Rio de Janeiro, continua
com aquele seu defeito de nasalizar a voz. Além do mais, as músicas que tem
escolhido ultimamente não são das melhores.
Já Blackout, apesar da sua voz esquisita, tem
procurado melhorar. Neste seu disco, lançado pela Continental, há um maxixe, Meu
Doce de Côco, que levou as assinaturas de Humberto Teixeira e Carlos
Barroso, muito bonzinho, parecendo ter sido composto especialmente para a voz
de Blackout, que o interpreta com desenvoltura e grande senso de ritmo. Os
Tabajaras, dirigidos por Severino Araújo são os elementos que respondem pela
parte orquestral, discreta, mas digna de atenção.
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Rádio Tupi, Diário da Noite, 19/4/50 |
Na foto: Aracy de Almeida, durante muito tempo
cognominada “o samba em pessoa”, deixou, como se sabe, a Odeon, passando-se,
com malas e bagagens, para a Continental, da qual, aliás, já estivera presa sob
contrato. A sua rentrée na gravadora dos três sininhos vai ser
assinalada com as gravações de um samba e de uma rumba, respectivamente
intitulados Falta o Que Fazer e Toca a Rumba.
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