sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Diário da Noite, 19 de Julho de 1950

A Continental vem de colocar nas revendedoras várias gravações feitas pelos seus melhores cartazes: Emilinha Borba, Blackout, Déo e Marlene. Samba, maracatú, rancheira, choro, bolero e bolero-mambo são os ritmos que fomos encontrar nas gravações em apreço. Emilinha Borba, por exemplo, nos proporciona Vizinho do 57, um chorinho interessante, cuja letra nos conta a história de uma jovem que morava no 59 e apaixonou-se pelo vizinho do 57. todavia, a vizinha do 55 seduziu o rapaz do 57, que a preferiu à do 59, que é quem conta a história. O tema das palavras é, como se vê, banalíssimo. Entretanto, as imagens usadas pelo autor da letra, René Bittencourt, também responsável pela música, são muito interessantes, com muita poesia, agradando. Na face oposta, Emilinha nos oferece um bolerinho-mambo gostoso: Bico-Doce, de autoria de H. Barbosa. Apesar de ser uma composição mais destinada aos dançarinos, dado o seu ritmo gostosamente balanceante, temos quase a certeza, vai ser um retumbante sucesso comercial, pois além de possuir música facilmente guardável pelo subconsciente, tem uma letra pequenina, fácil de aprender. Daqui a pouco, toda a cidade estará cantando Bico Doce. Tanto em Vizinho do 57, como em Bico Doce, Emilinha Borba está muito bem, cantando com desembaraço. Está melhor, porém, assim nos parece, em Bico Doce. O acompanhamento é feito pelo conjunto Tabajara, regido por Severino Araújo.

Rádio Bandeirantes, Jornal de Notícias, 31/1/50
Emilinha Borba
Marlene, por seu turno, gravou a rancheira O Casamento de Rosa e o maracatú Cambinda Briante, de Evaldo Rui e Fernando Lobo. Quem olhar para a etiqueta do disco e topa com o título do maracatú, Cambinda Briante, vai achar estranho esse título por não entender o seu significado. Entretanto, ouvindo-se a gravação, ficar-se-á sabendo que Cambinda Briante é uma cena folclórica do exuberante, bizarro, mas apaixonadamente curioso folclore nordestino. A interpretação de Marlene, neste maracatú, cuja face está superior ao Casamento de Rosa, não poderia ser mais convincente. Excelente o acompanhamento de Severino Araújo com a orquestra Tabajara. Digno de observação o bateria do conjunto, que desde o primeiro ao último sulco da gravação está presente, marcando o ritmo acentuado do maracatú, o que, aliás, acontece também na gravação de Bico Doce, de Emilinha Borba.

Jornal de Notícias, 5/1/50 - Clique para ver em alta resolução
Marlene
Déo, infelizmente, não nos convenceu, quer com o bolero Desesperança, de Alberto Lopes e Wolkoff ou na valsa que completa o disco. O cantor paulista, radicado há muito tempo no Rio de Janeiro, continua com aquele seu defeito de nasalizar a voz. Além do mais, as músicas que tem escolhido ultimamente não são das melhores.

Já Blackout, apesar da sua voz esquisita, tem procurado melhorar. Neste seu disco, lançado pela Continental, há um maxixe, Meu Doce de Côco, que levou as assinaturas de Humberto Teixeira e Carlos Barroso, muito bonzinho, parecendo ter sido composto especialmente para a voz de Blackout, que o interpreta com desenvoltura e grande senso de ritmo. Os Tabajaras, dirigidos por Severino Araújo são os elementos que respondem pela parte orquestral, discreta, mas digna de atenção.

Rádio Tupi, Diário da Noite, 19/4/50
Na foto: Aracy de Almeida, durante muito tempo cognominada “o samba em pessoa”, deixou, como se sabe, a Odeon, passando-se, com malas e bagagens, para a Continental, da qual, aliás, já estivera presa sob contrato. A sua rentrée na gravadora dos três sininhos vai ser assinalada com as gravações de um samba e de uma rumba, respectivamente intitulados Falta o Que Fazer e Toca a Rumba.

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