sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Diário da Noite, 05 de Julho de 1950

CANTOR DE PERSONALIDADE

Temos a certeza de que vamos comentar o disco de um cantor que, apesar de desfrutar de elevado renome como intérprete de operetas, é desconhecido, aqui no Brasil, do grande público. Trata-se de Luiz Mariano. É ele, se não nos equivocamos, ítalo-francês.[1] Seu timbre vocal é curiosíssimo. A tonalidade é de tenor. Mas é de uma suavidade e de uma extensão que impressionam. Luiz Mariano, com efeito, canta como ninguém.

Apesar de se tratar de um cantor de renome, com exceção da gravação que estamos comentando, não há outras aqui no Brasil, o que é de se lamentar. Mesmo a de que estamos tratando, dificilmente poderá ser encontrada nas casas revendedoras, pois se trata de gravação “His Master’s Voice”, importada. Portanto, de número limitado, já devendo, por isso, ter se esgotado.

No disco em apreço, Luiz Mariano gravou, em uma das faces, a valsa da opereta La Belle de Cadix, de Maurice Vandair e Francis Lopez, intitulada Maria Luisa; e na outra, trecho da mesma opereta, por sinal com o próprio título da peça. Entretanto, conquanto Luiz Mariano se porte de maneira soberba em ambas as faces do disco, admiramo-lo mais na face de Maria Luisa, onde está, positivamente, espetacular. É por isso, por esta face, em particular, que o fato de não existir entre nós outras gravações desse artista, nos causa espécie.

Luiz Mariano
Porque uma voz como a de Luiz Mariano precisa ser ouvida e admirada. Afinal de contas, nem sempre se tem a oportunidade de se tomar contato com um artista com o quilate desse ítalo-francês. Em La Belle de Cadix, valsa que dá o nome à opereta, e que completa o disco, possui uma letra chistosa e insinuante, dando-lhe Mariano, por isso, um tratamento elevado e condigno.

O acompanhamento é executado pela orquestra de Henry Rys que é, como se sabe, um dos bons conjuntos de Paris. Não sabemos se a orquestração é ou não de Henry Rys ou se é dos próprios autores da opereta. Entretanto, o que é certo é que se trata de uma orquestração magnífica, que o conjunto soube executar, nos dois lados do disco, de forma segura e bastante convincente.

Eddy Duchin
Se o leitor tiver a fortuna de encontrar esse disco na sua casa revendedora, não deve perdê-lo. Vale a pena.

Na foto: Pouca gente tomou conhecimento entre os lançamentos da Columbia, do mês último, do disco de Eddy Duchin, no qual ele interpreta, em solo de piano, Às Três da Manhã e My Melancholy Baby, dois tradicionais foxes norte-americanos. Todavia, trata-se de um disco merecedor da atenção do discófilo, porquanto Eddy Duchin, mais uma vez, nos demonstra a sua soberba técnica pianística.


[1] Luiz Mariano nasceu em Irun, no País Basco espanhol.

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