terça-feira, 19 de novembro de 2013

Diário da Noite, 15 de Maio de 1950

VOCALISTA DE FUTURO

A Continental deve agarrar de unhas e dentes esse vocalista que é Jorge Goulart. Dono de uma bela voz, límpida e agradável, e dono de uma sensibilidade interpretativa dificilmente encontrada em muitos dos nossos artistas, por vezes de grande fama, Jorge Goulart está fadado a futuro promissor. Seu timbre e entonação vocal nos fazem lembrar o Sílvio Caldas dos áureos tempos. Não que ele procure imitar o consagrado “caboclinho”, posto que sua maneira de cantar tem personalidade. Todavia, a natureza tem desses caprichos. Dir-se-á que a voz de Jorge Goulart é gêmea da de Sílvio Caldas e, como a deste, está destinada, é fácil prever, a conquistar legiões de fãs.

São Paulo e Fim de Estrada são dois bonitos sambas que Jorge Goulart vem de gravar para a Continental. O primeiro, como o próprio nome deixa antever, descreve a Capital paulista, com sua vibração, seu trabalho, suas fábricas, seus arranha-céus, suas chaminés e suas mulheres. Jorge interpreta o samba de forma superior, dando-lhe a vibração que requer, cantando com larga dose de disposição. Acompanha-o o conjunto de Severino Araújo, que nos dá uma orquestração digna dos melhores encômios.

Jorge Goulart
A face oposta do disco – Fim de Estrada – é mais fraca que a primeira. É natural. Mesmo assim, o trabalho de Wilson Batista é interpretado com muita propriedade pelo cantor. Aqui, em determinadas passagens, a gente tem a impressão de que é o próprio Sílvio Caldas quem está cantando. Impressiona-nos a similaridade.

O disco, portanto, especialmente pela face de São Paulo, cuja letra canta a terra paulista, sua gente e seu trabalho e, sobretudo pela bela interpretação de Jorge Goulart, é recomendável.

Da gravação propriamente dita, nada há que dizer, pois o chiado é quase imperceptível, o que indica que a Continental está usando massa de boa qualidade, e a captação do cantor e da orquestra para a cera foi muito bem feita pelo técnico.

Gaó Gurgel (foto do site
http://musicachiado.webs.com/)
Na foto: Dificilmente há quem desconheça esse apaixonado da música brasileira que é Gaó Gurgel, ou mais simplesmente, “Gaó”. Sua famosa orquestra “Columbia” fez época em São Paulo, dada a sua homogeneidade. Gaó, embora esteja em São Paulo, chefiando o jazz sinfônico de uma das nossas emissoras, deixou, quando de sua estada nos Estados Unidos, uma série de gravações que estão assombrando os norte-americanos: Bumble Boogie Samba, Corcovado, Maxixe Carioca, Pão de Açúcar, Penha, Rio, Salgueiro e Urca são os nomes das músicas que o festejado band leader brasileiro gravou com um trio formado por ele ao piano, uma bateria e um contrabaixo, tendo em algumas delas intervindo a vocalista Danita, uma entusiasta da nossa música em plagas norte-americanas.

É de esperar que as edições nacionais dessas gravações não demorem.

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