O CONTROLE DA VOZ
A arte do canto, sem dúvida nenhuma, é uma das
mais belas e difíceis. O vocalista, além de dotado de alta sensibilidade
artística e musical, há que ser possuidor de outro predicados, se quiser vir a
ser um cantor apreciado por todas as platéias. Variadas são as formas
empregadas pelos vocalistas de palco, rádio e disco. Cantar no palco – evidentemente
sem o auxílio do microfone – demanda esforço do cantor que assim, tem que
lançar mão da sua potência vocal. Isto já não acontece no rádio ou no disco,
exceção aos artistas líricos que, pela natureza das partituras são obrigados a
dar largas às suas vozes, quer no palco, no rádio ou no disco. Para estes, a
fim de que suas audições sejam perfeitas, ao microfone ou à cera, é necessária
grande habilidade do técnico.
Artistas líricos, entretanto, há, que também se
dedicam ao cultivo da música popular. Gino Bechi é um deles. Admiramos a voz de
Gino Bechi. É de uma tonalidade muito bonita e máscula. Entretanto, parece-nos
que o jovem barítono do Scala, apesar disso, não sabe empregar bem a sua voz ao
vocalizar melodias populares. E também em muitas árias líricas, diga-se de
passagem. Demonstram-no os seus discos. Bechi, evidentemente, estudou canto. E,
por isso, deve saber que uma melodia, especialmente a popular, deve ser cantada
com naturalidade, sem aquelas demonstrações de potencialidade ridícula, tão em
voga em outras épocas. Cantar, assim nos parece, é dizer os versos de uma
música com suavidade. Uma ária de ópera, por mais notas altas que tenha, há que
ser interpretada com arte, o que quer dizer com naturalidade. Com efeito, causa
pena, ao se assistir a um espetáculo lírico, o ver-se um cantor ou cantora
esgoelar-se inutilmente.
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Gino Bechi |
Estas considerações nos vieram às teclas ao
termos em mãos vários discos gravados por Gino Bechi para a etiqueta Victor.
São eles: Sta Sera Canto e Ninna Nanna D’Amore, do filme Arriverdercci,
Papá, ainda não exibido entre nós; Verde Ucrania e Suona
Balalaika. Com exceção desta Verde Ucrania e Suona Balalaika,
nas demais gravações o simpático, mas irremediavelmente convencido cantor
italiano, apresenta os mesmos defeitos que já tivemos ocasião de apontar em
seus discos anteriores. Gino, lamentavelmente, não sabe fazer uso com
propriedade, de sua bela voz, dando-lhe desmedida liberdade, enfeiando desse
modo, as suas interpretações. Por que, Santo Deus, gritar tanto? Será isso cantar?!
É de estranhar que ninguém ainda tenha tido a necessária sinceridade, brutal e
talvez antipática, como a nossa, para chamar a atenção do famoso barítono para
esse fato. Está certo que empregue toda a potência da sua bonita voz num palco,
interpretando óperas. Mas em canções populares, cremos, não há necessidade
disso, sobretudo ao serem levadas ao disco. A título de curiosidade, fizemos
uma comparação entre outras gravações suas, em vocalizações das mesmas
melodias, com as de outros artistas (vide a canção Torna, por ele e por
Tito Schipa) e a diferença é enorme. Argumentar-se-á que são estilos
diferentes. Certo. Mas é pena que uma bela voz como a de Bechi seja usada em
estilo assim tão lamentável. Façamos votos para que, ao menos no disco, no
futuro, Bechi nos proporcione interpretações menos gritadas.
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Nelson Eddy |
Com referência às gravações em apreço, gostamos
mais, repetimos, da face de Suona Balalaika que, apesar de inferior à de
Nelson Eddy, está muito boa, pois ao cantá-la Gino esquecei-se de que possui
voz poderosa... Além disso, há a originalidade orquestral da introdução e do
final, ao sugerir o ambiente tipicamente eslavo.
Para que os fãs do barítono que nos visita
perdoem os nossos reparos sobre a sua arte, aqui vai uma novidade: Gino Bechi
trouxe da Itália um punhado de novas matrizes de gravações suas, cujos discos
serão editados pela Victor. Eis as melodias encerradas nessas matrizes: Rachiamo
D’Amore, do filme Segredos de Don Juan, Noturno, do filme Arriverderci,
Papá; Signorella Mia, do filme Signorella; Lu Me
Sciccareddá e Matinatta Siciliana. Agora é só aguardar a Victor
lançar ao mercado esses novos discos, o que se dará dentro de poucos dias.
Na foto: És Tu Balalaika foi gravada em
primeiro lugar por Nelson Eddy, “astro” do filme que nos trouxe a melodia.
Outros artistas de renome também gravaram a música. Gino Bechi, agora, nos
apresenta a versão italiana sob o título Suona Balalaika. De todos, a
gravação de Nelson Eddy continua sendo a melhor.
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