sexta-feira, 30 de maio de 2014

Diário da Noite, 23 de setembro de 1950

TRÊS VETERANOS

Hugo Del Carril, Libertad Lamarque e Mercedes Simone são, como se sabe, três nomes dos mais prestigiados e antigos da radiofonia argentina. O renome de que desfrutam dá ensejo a que seus discos, especialmente as novidades, sejam procurados com avidez pela legião de fãs que granjearam em todo o mundo. Entretanto, gravam, ultimamente, relativamente pouco. Especialmente Mercedes Simone que, fazia tempo, não figurava em qualquer suplemento de novidades em disco. Chegou-se mesmo a pensar que, enfastiada da vida artística, resolvera recolher-se à vida particular conquistara com sacrifício, mas prazerosamente.

Tal não se deu, entretanto. Mercedes Simone reapareceu no disco, através do suplemento Continental do corrente mês, cantando dois magníficos tangos: El Piel de Jazmin, de Marianito Mores e José M. Contursi, e A Media Luz, velho tango de Edgardo Donato.

A voz de Mercedes Simone é sempre a mesma. Não mudou nada. O estilo, as inflexões vocais, a sua característica sensibilidade interpretativa não sofreram qualquer alteração, apesar da longa ausência do mundo do disco. Em ambas as faces da cera, a veterana vocalista portenha se porta à altura do seu renome, especialmente no tango A Media Luz, onde parece estar mais à vontade.

Mercedes Simone
O conjunto orquestral responsável pelo acompanhamento foi a típica de Emilio Brameri, através de orquestrações bastante interessantes, elaboradas com muito bom gosto e para ressaltar a bonita voz da solista.

O disco em questão, portanto, marca o feliz retorno de Mercedes Simone aos suplementos nacionais, de gravações.

A Victor, por sua vez, nos oferece mais um disco de Hugo Del Carril, o moço que deveria ser o sucessor de Gardel. Oferece-nos ele El Porteñito, tango de C. Pesce e A. Polito, e Adiós Muchachos, antiga página de J. Sanders e C. Vedani.

Hugo Del Carril – temos ressaltado mais de uma vez – é dono de um bonito timbre vocal. Entretanto, não sabemos por que, insiste em exagerar a vocalização, em determinados vocábulos, parecendo que canta com raiva. Esse seu exagero, possivelmente, porque ele não corrigiu a tempo o senão, é que talvez tenha prejudicado a sua ascensão ao lugar que ocupava Carlos Gardel no coração dos fãs de todo mundo.

Hugo del Carril
Gostamos mais da sua interpretação do tango Adiós Muchachos. Entretanto, na face de El Porteñito há uma flauta na orquestra que nos chama, particularmente, a atenção.

Também Libertad Lamarque, que conta tantos admiradores no Brasil, está presente no suplemento Victor para outubro, cantando os seguintes números: La Cieguita, tango de Ramuncho e K. Lais, e Los Dos Arbolitos, canção de Chucho Martinez Gil.

Todos conhecemos o quilate artístico de Libertad. Assim, ela só poderia nos oferecer dois números cuidados e muito bem interpretados. La Cieguita, como o próprio nome sugere, conta a história triste de uma jovem privada da visão, mas que ama... Todo o sentimento imposto pelos autores à partitura foi apreendido pela artista e transmitido com arte e ternura. A particularidade da face oposta, Los Dos Arbolitos, é que Libertad, quase ao fim da gravação, canta em dueto com ela mesma, tornando o disco mais interessante ainda.

Libertad Lamarque
Pelo exposto, os amantes da música argentina, especialmente os fãs dos três renomados cartazes, têm aí vários números que podem interessá-los.

Na foto: O novo Trio de Ouro, ao que parece, está com vontade de reconquistar mesmo o antigo prestígio do conjunto. Já nos tem dado boas gravações e, agora, através do suplemento Victor de outubro, volta a comparecer com outro disco, em que apresenta o samba-canção de Vicente Paiva e Jaime Redondo, Ave Maria, e Teu Exemplo, também um samba-canção que leva as assinaturas de Herivelto Martins e David Nasser. Neste último samba, Herivelto volta a insistir no lamentável caso surgido entre ele e Dalva de Oliveira. Comentaremos, em próxima nota, esta última produção do novo Trio de Ouro.

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