TRÊS VETERANOS
Hugo Del Carril, Libertad Lamarque e Mercedes Simone
são, como se sabe, três nomes dos mais prestigiados e antigos da radiofonia
argentina. O renome de que desfrutam dá ensejo a que seus discos, especialmente
as novidades, sejam procurados com avidez pela legião de fãs que granjearam em
todo o mundo. Entretanto, gravam, ultimamente, relativamente pouco.
Especialmente Mercedes Simone que, fazia tempo, não figurava em qualquer
suplemento de novidades em disco. Chegou-se mesmo a pensar que, enfastiada da
vida artística, resolvera recolher-se à vida particular conquistara com
sacrifício, mas prazerosamente.
Tal não se deu, entretanto. Mercedes Simone
reapareceu no disco, através do suplemento Continental do corrente mês,
cantando dois magníficos tangos: El Piel de Jazmin, de Marianito Mores e
José M. Contursi, e A Media Luz, velho tango de Edgardo Donato.
A voz de Mercedes Simone é sempre a mesma. Não
mudou nada. O estilo, as inflexões vocais, a sua característica sensibilidade
interpretativa não sofreram qualquer alteração, apesar da longa ausência do
mundo do disco. Em ambas as faces da cera, a veterana vocalista portenha se
porta à altura do seu renome, especialmente no tango A Media Luz, onde
parece estar mais à vontade.
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Mercedes Simone |
O conjunto orquestral responsável pelo
acompanhamento foi a típica de Emilio Brameri, através de orquestrações
bastante interessantes, elaboradas com muito bom gosto e para ressaltar a
bonita voz da solista.
O disco em questão, portanto, marca o feliz
retorno de Mercedes Simone aos suplementos nacionais, de gravações.
A Victor, por sua vez, nos oferece mais um disco
de Hugo Del Carril, o moço que deveria ser o sucessor de Gardel. Oferece-nos
ele El Porteñito, tango de C. Pesce e A. Polito, e Adiós Muchachos,
antiga página de J. Sanders e C. Vedani.
Hugo Del Carril – temos ressaltado mais de uma
vez – é dono de um bonito timbre vocal. Entretanto, não sabemos por que,
insiste em exagerar a vocalização, em determinados vocábulos, parecendo que
canta com raiva. Esse seu exagero, possivelmente, porque ele não corrigiu a
tempo o senão, é que talvez tenha prejudicado a sua ascensão ao lugar que
ocupava Carlos Gardel no coração dos fãs de todo mundo.
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Hugo del Carril |
Gostamos mais da sua interpretação do tango Adiós
Muchachos. Entretanto, na face de El Porteñito há uma flauta na
orquestra que nos chama, particularmente, a atenção.
Também Libertad Lamarque, que conta tantos
admiradores no Brasil, está presente no suplemento Victor para outubro,
cantando os seguintes números: La Cieguita, tango de Ramuncho e K. Lais,
e Los Dos Arbolitos, canção de Chucho Martinez Gil.
Todos conhecemos o quilate artístico de
Libertad. Assim, ela só poderia nos oferecer dois números cuidados e muito bem
interpretados. La Cieguita, como o próprio nome sugere, conta a história
triste de uma jovem privada da visão, mas que ama... Todo o sentimento imposto
pelos autores à partitura foi apreendido pela artista e transmitido com arte e
ternura. A particularidade da face oposta, Los Dos Arbolitos, é que
Libertad, quase ao fim da gravação, canta em dueto com ela mesma, tornando o
disco mais interessante ainda.
Libertad Lamarque |
Pelo exposto, os amantes da música argentina,
especialmente os fãs dos três renomados cartazes, têm aí vários números que
podem interessá-los.
Na foto: O novo Trio de Ouro, ao que parece,
está com vontade de reconquistar mesmo o antigo prestígio do conjunto. Já nos
tem dado boas gravações e, agora, através do suplemento Victor de outubro,
volta a comparecer com outro disco, em que apresenta o samba-canção de Vicente
Paiva e Jaime Redondo, Ave Maria, e Teu Exemplo, também um
samba-canção que leva as assinaturas de Herivelto Martins e David Nasser. Neste
último samba, Herivelto volta a insistir no lamentável caso surgido entre ele e
Dalva de Oliveira. Comentaremos, em próxima nota, esta última produção do novo
Trio de Ouro.
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