domingo, 29 de dezembro de 2013

Diário da Noite, 14 de agosto de 1950

CLÁSSICO ESPANHOL

A Columbia americana lançou, não faz muito tempo, um álbum contendo dois discos de doze polegadas nos quais estão gravadas, pela Orquestra Filarmônica de Londres, sob a regência de Alceo Galliera três danças do Chapéu de Três Bicos, do compositor ibérico Manuel De Falla.

A história da música de O Chapéu de Três Bicos é curiosa. Quando da visita do Ballet Russe à Espanha, em 1917, seu diretor, o famoso Serguei Diaghileff, encomendou a Manuel De Falla um ballet inspirado na novela de Alarcón, El Sombrero de Tres Picos. Este mesmo assunto, que já havia sido usado por Hugo Wolf em sua ópera Der Corregidor, trata da história, provavelmente, verídica, de um moleiro e sua esposa, perseguida pelo governador, cujo distintivo oficial era o tricórnio.

Uma noite, quando De Falla, Diaghileff e Massine, técnico em coreografia do Ballet, visitavam recantos afastados da Andaluzia, em busca de atmosfera para o ballet, encontraram um cego que cantava uma melodia ao som de uma guitarra quebrada. Era uma melodia belíssima e os seus acordes chamaram de pronto a atenção de De Falla, cuja sensibilidade foi ferida pela canção. Era o tema procurado! Aquela canção, é, assim, aproveitada por De Falla e o ballet é, finalmente, levado à cena no Teatro Alhambra, de Londres, a 22 de julho de 1919.

Alceo Galliera
A suíte do concerto, extraída da partitura do ballet, consta de três danças. A primeira, intitulada Os Vizinhos, evoca a festa junto à casa do moleiro na véspera do dia de São João. A segunda, Dança do Moleiro, descreve com um pouco de melancolia, a natureza rude do moleiro. É uma farruca, tipicamente andaluza. A terceira e última, Dança Final, é uma “jota” brilhante, movimentada, para caracterizar a derrota do ousado conquistador.

Alceo Galliera, jovem regente italiano, à frente do famoso conjunto londrino, nos dá uma feliz interpretação desta movimentada partitura, sobretudo na parte final, caracterizada por intenso movimento e vibração.

No que diz respeito à gravação, propriamente dita, só se poderá dizer que está perfeita, porquanto está isenta de chiado ou imperfeições, como bolhas ou estalidos, provenientes da massa de má qualidade, dotada, assim de um som muito fiel.

Um álbum, portanto, que se pode recomendar aos apreciadores da música clássica.

Diário da Noite, 19/6/50

Na foto: Alexander Brailowsky é considerado um dos mais perfeitos intérpretes das páginas de Chopin. Mensalmente, o suplemento Victor programa regravações do grande mestre do teclado, não apenas na interpretação das partituras do imortal compositor polonês, senão também das obras de Ravel, Liszt, Weber, Albéniz, Beethoven, etc. Entretanto, é em suas interpretações de Chopin que se pode, através do disco, ter uma idéia da sua exuberante técnica e grande sensibilidade.

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