GRAVAÇÃO CURIOSA
A
Capitol lançou, já faz um mês, um disco de Les Paul, em solo de guitarra
elétrica, no qual ele gravou as melodias Lover e Brasil. Trata-se
de um disco curioso. Todos os que o ouvem ficam intrigados, porquanto a
etiqueta faz referência apenas a Les Paul e, entretanto, ele parece estar sendo
acompanhado por numeroso conjunto de ritmo, no qual julga-se existirem
instrumentos ainda desconhecidos do grande público. Entretanto, não há conjunto
de ritmo algum acompanhando o solista e, muito menos instrumentos bizarros e
desconhecidos. O que houve, na realidade, foi uma bem feita e inteligente
fono-montagem. Trata-se, evidentemente, de uma proeza não só do solista de
guitarra elétrica mas, também dos técnicos da Capitol. Foi mais ou menos assim
que ele executou a aludida gravação. Em primeiro lugar, combinou com os
técnicos em realizar seis diferentes gravações, isto é, levaria à cera seis
partes diferentes da música. Depois colocando as seis gravações, em pick-up
de absoluta precisão, rodadas simultaneamente, levaria as parte tocadas nas
seis gravações diferentes, para um só disco. Assim, Les Paul escolheu a melodia
Lover, por exemplo, e gravou num disco toda a sua melodia. Num outro
disco a harmonia, ou o acompanhamento. Num terceiro, executou variações sobre o
tema musical. No quarto, variações sobre a harmonia. No quinto, “uma baixaria”,
imitando um contrabaixo. E, finalmente, no sexto disco, em sobreagudo, algumas
variações imitando violinos. Gravou, assim, seis discos completamente
diferentes. Se ouvíssemos cada um deles, em separado, dificilmente reconheceríamos
a música, apesar de se tratar de Lover, uma das mais populares melodias
em todo o mundo.
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Les Paul |
Concluídas as seis gravações, foram elas, como dissemos,
levadas ao tocador de precisão, e, rodadas simultaneamente, gravadas numa só
cera. E o resultado foi a curiosa gravação que vimos de mencionar. Se bem que
este caso, o de se gravar seis discos para, depois, elaborar um, figurando o
artista como solista e acompanhantes, seja único, a questão não se reveste de
novidade, porquanto numerosos artistas têm feito o mesmo. Enrico Caruso, por
exemplo, há tempos, gravou trechos de óperas cantando em dueto com ele mesmo.
Beniamino Gigli fez o mesmo. E Jascha Heifetz foi ao extremo de gravar um
concerto para dois violinos, ele mesmo executando as partituras de ambos os solistas.
Tudo com o mesmo recurso de que lançou mão Les Paul. Dissemos que o seu caso é
único porque, realmente, foi ele o primeiro a interpretar seis partes
diferentes, isto é, fazendo o papel de solista e do conjunto acompanhante. A
propósito, William Fourneau, ao gravar, há poucos dias, para a Continental, com
a orquestra de Georges Henry, o fragmento da suíte de Katchaturian A Dança
do Sabre, em solo de assovio, desejou, lançando mão do mesmo processo,
realizar um dueto e um contra-solo de assovio com ele mesmo. Entretanto,
faltaram recursos técnicos e a proeza não pôde ser levada a efeito, o que foi
pena, porquanto se fosse feita, a gravação seria bem mais valorizada e seria
uma tácita demonstração da capacidade artística de um moço ainda no início de sua
carreira. O disco em apreço, portanto, vale pela curiosidade que apresenta. De
fato, Les Paul conseguiu efeitos inéditos e absolutos, jamais ouvidos em
qualquer outra gravação.
Na
foto: Na lista avançada de novidades da Continental, a serem lançadas em
setembro próximo, está programado um disco desse homogêneo conjunto vocal
paulista que são os Vagalumes do Luar. No aludido disco vamos encontrar o baião
de Juraci Rago e Mário Vieira, O Baião Chegou e a toada de Birimbau e
Manézinho Araújo, O Pió da Saudade. O festejado quinteto já gravou,
também, para a etiqueta dos três sininhos, o samba de Mário Vieira e Orlando
Barros (Tavinho), Maluco por Samba.
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