domingo, 8 de dezembro de 2013

Diário da Noite, 5 de agosto de 1950

O CARUSO DO SÉCULO XX

Dentro de algumas semanas uma sala de projeção da cidade exibirá um filme com o título Aquele beijo à meia-noite, o qual reúne, entre outros, os artistas Mario Lanza, Kathryn Grayson e José Iturbi. Trata-se de um grande filme musical, segundo a opinião da crítica estrangeira. Kathryn Grayson e José Iturbi são figuras conhecidíssimas do público brasileiro. Mario Lanza, entretanto, é totalmente desconhecido. No entanto, é uma figura de artista das mais impressionantes até agora surgida neste século, segundo a opinião de Serge Koussevitzky, ex-regente da Orquestra Sinfônica de Boston e descobridor desse jovem tenor, de apenas 27 anos de idade. Koussevitzky, do alto do seu prestígio, chega mesmo a dizer que Mario Lanza, para ele, é um segundo Caruso, “o Caruso do século XX”.

Mario Lanza, nós já tivemos ocasião de dizer por esta mesma coluna, é norte-americano, filho de pais italianos. Seu verdadeiro nome é Alfred Arnold Cocozza. O nome de Mario Lanza ele tomou emprestado à sua mãe, quando solteira – Maria Lanza – por sugestão do próprio Sergei Koussevitzky, que achou esse nome mais artístico. Já foi convidado para cantar no Scala de Milão pelo seu diretor, o maestro Victor de Sabata, não podendo aceitar o convite por estar precisamente sob contrato da empresa cinematográfica produtora do filme em apreço.

Pois é exatamente desse jovem e prodigioso tenor que vamos ocupar-nos hoje, através de suas primeiras gravações, editadas pela Victor, em número de três, e que fazem parte do seu suplemento de novidades do corrente mês. Os números que Mario Lanza interpreta, nessas gravações, são os seguintes: Che Gelida Manina, do 1º ato da ópera La Boheme, de Puccini; Celeste Aida, do 1º ato da ópera Aida, de Verdi; Mamma Mia Che Sapé?, Core ‘ingrato, I know, I know, I know e They Didn’t Believe Me, as duas últimas do filme a que nos referimos.

Só temos palavras elogiosas para as gravações em apreço. Tudo nelas está perfeito. Som cristalino. Interpretação das mais soberbas, quer nas canções, quer nas árias. Acompanhamento orquestral notável, feito pela própria Sinfônica de Boston, sob a regência Serge Koussevitzky, muito embora a etiqueta do disco a ela não faça qualquer referência.

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O que nos impressionou foram as interpretações de Lanza das páginas de Verdi e Puccini, onde o tenor faz questão de demonstrar a sua exuberância vocal, de belíssimo timbre, seguro e correto nas inflexões, sem qualquer senão na respiração, justificando assim o cognome que lhe deu Koussevitzky: “Caruso do Século XX”.

As canções do filme, I know, I know, I know e They Didn’t Believe Me, não são próprias para a voz de Lanza, que é alta. Trata-se de duas páginas excessivamente lentas, embora belas, mas que, positivamente, não vão bem para o estilo do cantor.

Em resumo, são três discos que recomendamos com prazer àqueles que admiram as grandes vozes. Mario Lanza – ou Alfred Arnold Cocozza – é, sem dúvida, apesar de sua pouca idade, uma das maiores vozes da atualidade.

Na foto: Michel Allard, o jovem cantor francês que ora nos visita, depois de gravar, para a Continental, com sua bonita voz e estilo todo pessoal, a canção de Charles Trenet Formidable, que mereceu uma crônica especial de nossa parte, gravou agora, para o mesmo selo, mais um disco. Prelude e Ma Chambre Bleue são as canções que interpreta, aliás, muito bem, sendo de notar os belos arranjos do maestro Gabriel Migliori.

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