O CARUSO DO SÉCULO XX
Dentro
de algumas semanas uma sala de projeção da cidade exibirá um filme com o título
Aquele beijo à meia-noite, o qual reúne, entre outros, os artistas Mario
Lanza, Kathryn Grayson e José Iturbi. Trata-se de um grande filme musical,
segundo a opinião da crítica estrangeira. Kathryn Grayson e José Iturbi são
figuras conhecidíssimas do público brasileiro. Mario Lanza, entretanto, é
totalmente desconhecido. No entanto, é uma figura de artista das mais
impressionantes até agora surgida neste século, segundo a opinião de Serge
Koussevitzky, ex-regente da Orquestra Sinfônica de Boston e descobridor desse
jovem tenor, de apenas 27 anos de idade. Koussevitzky, do alto do seu
prestígio, chega mesmo a dizer que Mario Lanza, para ele, é um segundo Caruso,
“o Caruso do século XX”.
Mario
Lanza, nós já tivemos ocasião de dizer por esta mesma coluna, é
norte-americano, filho de pais italianos. Seu verdadeiro nome é Alfred Arnold
Cocozza. O nome de Mario Lanza ele tomou emprestado à sua mãe, quando solteira
– Maria Lanza – por sugestão do próprio Sergei Koussevitzky, que achou esse
nome mais artístico. Já foi convidado para cantar no Scala de Milão pelo seu
diretor, o maestro Victor de Sabata, não podendo aceitar o convite por estar
precisamente sob contrato da empresa cinematográfica produtora do filme em
apreço.
Pois
é exatamente desse jovem e prodigioso tenor que vamos ocupar-nos hoje, através
de suas primeiras gravações, editadas pela Victor, em número de três, e que
fazem parte do seu suplemento de novidades do corrente mês. Os números que
Mario Lanza interpreta, nessas gravações, são os seguintes: Che Gelida
Manina, do 1º ato da ópera La Boheme, de Puccini; Celeste Aida,
do 1º ato da ópera Aida, de Verdi; Mamma Mia Che Sapé?, Core
‘ingrato, I know, I know, I know e They Didn’t Believe Me, as
duas últimas do filme a que nos referimos.
Só
temos palavras elogiosas para as gravações em apreço. Tudo nelas está perfeito.
Som cristalino. Interpretação das mais soberbas, quer nas canções, quer nas
árias. Acompanhamento orquestral notável, feito pela própria Sinfônica de
Boston, sob a regência Serge Koussevitzky, muito embora a etiqueta do disco a
ela não faça qualquer referência.
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O que nos impressionou foram as
interpretações de Lanza das páginas de Verdi e Puccini, onde o tenor faz
questão de demonstrar a sua exuberância vocal, de belíssimo timbre, seguro e
correto nas inflexões, sem qualquer senão na respiração, justificando assim o
cognome que lhe deu Koussevitzky: “Caruso do Século XX”.
As
canções do filme, I know, I know, I know e They Didn’t Believe Me,
não são próprias para a voz de Lanza, que é alta. Trata-se de duas páginas
excessivamente lentas, embora belas, mas que, positivamente, não vão bem para o
estilo do cantor.
Em
resumo, são três discos que recomendamos com prazer àqueles que admiram as grandes
vozes. Mario Lanza – ou Alfred Arnold Cocozza – é, sem dúvida, apesar de sua
pouca idade, uma das maiores vozes da atualidade.
Na
foto: Michel Allard, o jovem cantor francês que ora nos visita, depois de
gravar, para a Continental, com sua bonita voz e estilo todo pessoal, a canção
de Charles Trenet Formidable, que mereceu uma crônica especial de nossa
parte, gravou agora, para o mesmo selo, mais um disco. Prelude e Ma
Chambre Bleue são as canções que interpreta, aliás, muito bem, sendo de
notar os belos arranjos do maestro Gabriel Migliori.
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