domingo, 29 de dezembro de 2013

Diário da Noite, 19 de agosto de 1950

A VISITA DO BAIÃO

Sim, podemos dizer assim, quando recebemos a amável visita de Luiz Gonzaga, porquanto ele personifica, não há dúvida, o baião. Pois o baião deu-nos o prazer de sua gentil visita, a fim de trazer os seus agradecimentos a referências a ele feitas quando de comentários que tecemos sobre gravações suas. Como se tivesse algo que agradecer!

Luiz Gonzaga é a modéstia personificada. Não deseja que focalizemos em demasia o seu nome, pondo em plano secundário os compositores, parceiros seus nas músicas que tem levado ao disco. “Quando comentar” – disse – “esqueça-se do Luiz Gonzaga. Os autores, meus parceiros, é que merecem ser lembrados. A eles e a Deus, Nosso Senhor, é que eu devo o cartaz que estou desfrutando”. Essa pequena frase representa toda a personalidade do artista. Enquanto alguns ficam “queimados” com o cronista porque, sem o querer, inadvertidamente, o colocou em segunda plana, Luiz Gonzaga, ao contrário, pede para que nos esqueçamos dele, em benefício dos compositores!

O criador e o maior divulgador e intérprete do baião, por ocasião da visita que nos fez, obsequiou-nos com uma foto sua, com lisonjeira dedicatória, e com a sua última gravação para a Victor, a qual será lançada em princípios do mês vindouro. Nesse disco vamos encontrar, na face A, a mazurca Chofer de Praça, de Ewaldo Rui e Fernando Lobo, e No Ceará Não Tem Disso Não, de Guio Morais.


Luiz Gonzaga contou-nos que é seu desejo dar oportunidade a jovens compositores que se dedicarem ao baião, acrescentando que o caso de Guio Morais é típico. Disse tratar-se de um compositor ainda moço, com pouco mais de 20 anos, mas profundo conhecedor da arte musical, violinista, pianista e regente de largos recursos; magnífico orquestrador, sendo responsável pela grande maioria dos arranjos orquestrais dos baiões executados pelas mais diversas orquestras do país.

Assim, adiantou Luiz Gonzaga, além das músicas dos seus clássicos parceiros, Zé Dantas e Humberto Teixeira, futuramente, além dos baiões de Guio Morais, outros, de compositores ainda desconhecidos, surgirão, para a alegria daqueles que gostam do buliçoso ritmo extraído do folclore nordestino.

Com alusão à gravação que nos foi oferecida, gostamos mais, realmente, do baião de Guio Morais, por ser mais movimentado e de ritmo mais acentuado e onde Luiz e sua sanfona estão mais à vontade. Chofer de Praça, uma homenagem aos motoristas, embora mais lento, pois se trata de uma mazurca, é possuidora de uma letra muito curiosa, chistosa e com boa dose de malícia. Inédito o efeito daqueles diálogos entre o motorista (Luiz) e os passageiros.

O disco em apreço, assim, vai ser, temos a certeza, mais um barulhento sucesso do homem dos baiões, nosso amigo, o modesto Luiz Gonzaga.

Nenhum comentário:

Postar um comentário