domingo, 8 de dezembro de 2013

Diário da Noite, 4 de agosto de 1950

PIANISTA E COMPOSITOR

Não faz muito, esteve em visita nesta Capital o pianista e compositor P. Kalender.[1] Não sabemos sua nacionalidade, nem tampouco seu primeiro nome, porquanto Kalender, dono de uma estranha personalidade, faz o impossível para encobrir as suas coisas.

Sabemos que é europeu, nascido a 16 de janeiro de 1902, descendente de uma família de artistas. Desde muito cedo demonstrou estar excepcionalmente dotado para a música.

Ingressando com pequena idade no Conservatório de sua cidade natal, onde demonstrou aptidões excelentes para o piano, saiu de sua pátria, dirigindo-se a Berlim, com o objetivo de aperfeiçoar seus estudos, sob a direção do professor Ferruccio Busoni. Na “Alta Escola de Música”, da capital germânica, teve como mestre de composição o maestro Franz Schrecker, cujos ensinamentos técnicos lhe foram valiosíssimos.

Marcelo Boasso, aka P. Kalender.
É a cara do Terence Stamp como Zod
Em 1921, Kalender efetuava seu primeiro ciclo de concertos na “Sing Academia” de Berlim. Ao comentar esse recital, disse o crítico Hoffman, um dos mais abalizados cronistas musicais alemães daquela época: “Estou firmemente convencido de que esse extraordinário pianista, apesar de seus escassos 20 anos de idade, pode ser incluído entre os mais afamados artistas do nosso tempo”. Desde essa época, teve início para Kalender uma série ininterrupta de turnês e de êxitos em toda a Europa. Em 1923-24, visitou a América do Sul, efetuando em Buenos Aires uma série de concertos, recebendo da crítica e do público portenho, as mais elogiosas referências. De regresso à Europa, visitou antes os Estados Unidos e o Canadá, sempre como intérprete das obras mestras da literatura pianística universal. O ano passado, quando efetuou uma série de concertos no Teatro Municipal de São Paulo, foi alvo das mais significativas manifestações de admiração e apreço, tanto do público que lhe não regateou aplausos, como da crítica, sempre reservada, mas que reconheceu nele uma artista invulgar.

No campo do disco, é enorme o número de suas gravações, muitas das quais acompanhado pelas mais famosas orquestras do mundo. Na gravação que temos em mão, da Odeon, Kalender interpreta duas páginas de sua própria autoria: Valsa da Recordação e Bolero Oriental. São duas peças ligeiras, como os títulos sugerem. Apesar disso – ou por isso mesmo – a gente pode ter uma perfeita noção da arte interpretativa de Kalender e da sua técnica superior.

Mesbla, 1949 - Clique para ver em alta resolução
Um disco que merece ser conhecido, especialmente pela face da Valsa da Recordação.

Na foto: P. Kalender


[1] Nota: “P. Kalender” era abreviação de “Príncipe Kalender”, personagem fictício e nome artístico do pianista italiano Marcelo Boasso. Diz a lenda que foi sua aparência algo mística e muçulmana que o teria levado a criar o “Príncipe Kalender”. Fez um grande sucesso por toda a vida, foi morar na Argentina no fim dos anos 30 e morreu em 1960.

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