PIANISTA E COMPOSITOR
Não faz muito, esteve em visita nesta Capital o
pianista e compositor P. Kalender.[1]
Não sabemos sua nacionalidade, nem tampouco seu primeiro nome, porquanto
Kalender, dono de uma estranha personalidade, faz o impossível para encobrir as
suas coisas.
Sabemos que é europeu, nascido a 16 de janeiro
de 1902, descendente de uma família de artistas. Desde muito cedo demonstrou
estar excepcionalmente dotado para a música.
Ingressando com pequena idade no Conservatório
de sua cidade natal, onde demonstrou aptidões excelentes para o piano, saiu de
sua pátria, dirigindo-se a Berlim, com o objetivo de aperfeiçoar seus estudos,
sob a direção do professor Ferruccio Busoni. Na “Alta Escola de Música”, da
capital germânica, teve como mestre de composição o maestro Franz Schrecker,
cujos ensinamentos técnicos lhe foram valiosíssimos.
Marcelo Boasso, aka P. Kalender. É a cara do Terence Stamp como Zod |
Em 1921, Kalender efetuava seu primeiro ciclo de
concertos na “Sing Academia” de Berlim. Ao comentar esse recital, disse o
crítico Hoffman, um dos mais abalizados cronistas musicais alemães daquela
época: “Estou firmemente convencido de que esse extraordinário pianista, apesar
de seus escassos 20 anos de idade, pode ser incluído entre os mais afamados
artistas do nosso tempo”. Desde essa época, teve início para Kalender uma série
ininterrupta de turnês e de êxitos em toda a Europa. Em 1923-24, visitou a
América do Sul, efetuando em Buenos Aires uma série de concertos, recebendo da
crítica e do público portenho, as mais elogiosas referências. De regresso à
Europa, visitou antes os Estados Unidos e o Canadá, sempre como intérprete das
obras mestras da literatura pianística universal. O ano passado, quando efetuou
uma série de concertos no Teatro Municipal de São Paulo, foi alvo das mais
significativas manifestações de admiração e apreço, tanto do público que lhe
não regateou aplausos, como da crítica, sempre reservada, mas que reconheceu
nele uma artista invulgar.
No campo do disco, é enorme o número de suas
gravações, muitas das quais acompanhado pelas mais famosas orquestras do mundo.
Na gravação que temos em mão, da Odeon, Kalender interpreta duas páginas de sua
própria autoria: Valsa da Recordação e Bolero Oriental. São duas
peças ligeiras, como os títulos sugerem. Apesar disso – ou por isso mesmo – a
gente pode ter uma perfeita noção da arte interpretativa de Kalender e da sua
técnica superior.
Mesbla, 1949 - Clique para ver em alta resolução |
Um disco que merece ser conhecido, especialmente
pela face da Valsa da Recordação.
Na foto: P. Kalender
[1] Nota: “P. Kalender” era
abreviação de “Príncipe Kalender”, personagem fictício e nome artístico do pianista
italiano Marcelo Boasso. Diz a lenda que foi sua aparência algo mística e
muçulmana que o teria levado a criar o “Príncipe Kalender”. Fez um grande
sucesso por toda a vida, foi morar na Argentina no fim dos anos 30 e morreu em
1960.
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