domingo, 8 de dezembro de 2013

Diário da Noite, 7 de agosto de 1950

CONDENÁVEL

Não faz muito, ao apreciarmos a primeira gravação do novo Trio de Ouro, intitulado Caminho Certo, tivemos ocasião de reprovar a atitude Herivelto Martins, chefe do trio, que, através das suas últimas composições, especialmente deste samba Caminho Certo, procura tornar público o por que da dissolução do trio – o antigo Trio de Ouro, que tanto sucesso alcançou – e as razões que levaram ele e Dalva, a voz feminina do conjunto e sua esposa, separar-se, após aquela turnê à Venezuela.

Por seu turno, compositores evidentemente interessados e interesseiros, fabricam para Dalva, músicas, cujas letras procuram responder às palavras das composições de Herivelto. É bem verdade que os autores de Dalva, apesar desse sádico interesse comercial, compõem coisas mais elegantes, em linguagem mais correta. Haja vista a sua última gravação, o bolero Que Será, que revela o atual estado de alma não da artista, mas da mulher, de Dalva, na vida real.

Agora, à vista da última composição de Herivelto – Caminho Certo – segundo se noticia, Dalva está processando por crime de injúria, o seu ex-marido. Em conseqüência, o disco de Caminho Certo esteve retido por algum tempo. E fãs de Dalva tentaram, numa tarde destas, agredir Herivelto, à porta de um jornal carioca. Depois disso, o popular compositor foi até a redação do jornal e declarou que “se a carapuça serve a alguém ele não tem culpa”...

Diário da Noite, 27/7/50
O Trio de Ouro, em priscas eras
Ora, tudo isso é profundamente ridículo, produto que é da insensatez e da sede de popularidade, ainda que para matá-a, se lance mão de um drama conjugal, que jamais deveria ser trazido a público, ainda mais da maneira como foi feita.

Condenável, positivamente condenável!


Na foto: Este é o antigo Trio de Ouro, que tantos aplausos arrancou do público de todo o Brasil. Suas gravações eram apreciadíssimas e ainda são procuradas. Agora surgiu o novo Trio de Ouro, do qual já falamos por esta coluna, e com ele uma série de músicas que historiam as “encrencas” do casal Herivelto-Dalva, com as quais o público nada tem que ver.

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