O FUTURO DO DISCO
Torna-se
difícil a previsão do futuro do disco. Com a descoberta do sistema de longa
gravação, através dos discos de 33.1/3 rpm, é bem verdade, largos horizontes se
descortinam para a vida do disco. Daí a dificuldade em que se predizer o seu
futuro, porquanto com o assustador progresso da ciência sabe lá o que será o
disco dentro de alguns anos! Entretanto, graças às gravações de 33.1/3 rpm,
interessantes iniciativas já têm tido lugar, tanto nos Estados Unidos como na
Inglaterra. Segundo notícias publicadas em órgãos especializados, a editora Sound
Book Press Society está procurando combinar o livro e o disco, isto é, a
imagem e o som, para facilitar a compreensão dos cursos de história da música
ou de qualquer outro assunto a ela relacionado. Visa a aludida editora
concretizar o sonho que a maioria dos autores modernos embalavam. A primeira
obra lançada pela Sound Book Press Society foi The Piano and Its
Ancestors, de autoria do organizador dessas edições, o Dr. Felix Guenther.
A obra, isto é, o livro, farto em ilustrações, focaliza a história dos
instrumentos de corda e teclado. Por outro lado, o disco encerra exemplos de
várias categorias dos aludidos instrumentos, em composições de autores
representativos de cada um. Segundo as notas que temos em mão, os exemplos mais
interessantes são os do clavicórdio e do cravo.
Sigmund Spaeth |
A
editora em questão está anunciando, para breve, edições subordinadas aos
seguintes temas: A Família do Violino, por Sigmund Spaeth; Bach,
por Hans Rosenwald; e História da Música de Dança, por Sondra Bianca.[1]
Outras obras de palpitante interesse – dizem as informações – estão programadas
e serão anunciadas oportunamente.
O
mais curioso, entretanto, é o preço de tais obras, isto é, da combinação do
livro e disco. Apenas $6,85 ou pouco mais de cem cruzeiros, em moeda nacional.
Para pessoas que não possuem rádio-vitrolas com o dispositivo que permita
várias velocidades ao prato, a Sound Book Press Society editará as
mesmas obras, em quatro discos de 12 polegadas, na velocidade comum, de 78 rom,
ao preço de $14,35, ou seja, mais do dobro do custo da combinação livro e disco
de longa gravação.
Isso
nos Estados Unidos. Na Inglaterra, a organização Gerald Lawrence Production
Ltd., cuja etiqueta é conhecida por GLP, vem editando várias das mais
importantes obras de Shakespeare, radiofonizadas com inteligência, gosto e
absoluto respeito pelo texto original, interpretadas de forma admirável por
conjuntos especializados ingleses. Assim, já foram postos à venda álbuns
contendo O Mercador de Veneza, Hamlet, Romeu e Julieta, Julio
César e Ricardo III, sendo de notar-se os efeitos musicais
escolhidos com muito gosto e propriedade, embelezando de maneira notável a obra
do maior dos poetas de língua inglesa.
Na
França, a Societé Industrielle de Reproduction Sonore, conseguiu a
exclusividade da Comédie Française para gravações das mais famosas obras
teatrais da França. Assim, já foram levadas ao disco as seguintes peças: L’Avare,
de Molière; Horace, de Corneille; Andromaque, de Racine;
anunciando-se, para muito breve, Le Misanthrope, Le Jeu de L’Amour et
du Hasard e On Ve Badine pas Avec L’Amour.
Gravações
de obras teatrais não constituem novidade, já tendo sido realizadas, há anos,
até com a célebre Sarah Bernhardt, em trechos de Phédre, de Racine. Em
discos de longa gravação é onde reside a novidade, pois tal iniciativa será de
grande interesse para o público, quer pelo baixo preço do disco quer pela
facilidade, pois um só disco de longa gravação substituirá um álbum inteiro, às
vezes com 12 discos! Imagine-se que sucesso não seriam as gravações comerciais
das obras interpretadas pelo conjunto, por exemplo, de Walter Forster, das Associadas,
um dos mais homogêneos elencos de rádio-teatro do Brasil!
Como
se vê, novos horizontes foram rasgados para o futuro do disco, que não se
prestará apenas para “enlatar” – como diriam nossos avós – a música, mas o
teatro, a cultura, através da palavra dos mestres.
Na
foto: As gravadoras nacionais, a exemplo da Columbia, da Victor, da His
Master’s Voice e da GLP (Gerald Lawrence Productions Ltd.), na
Inglaterra e nos Estados Unidos; e da Societé Industrielle de Reproduction
Sonore, da frabça, bem que poderiam realizar gravações rádio-teatralizadas,
embora em gravações de 78 rom, das mais representativas obras da literatura
nacional e universal. A Continental, é bem verdade, já esboçou alguma coisa com
as suas Histórias Infantis. Walter Forster, um dos grandes cartazes do
rádio-teatro nacional, se levasse ao disco as suas peças, seria, sem dúvida, um
autêntico recordista na venda das gravações.
[1]
“Sandra”, no texto, mas acho mais provável que esse livro — que não encontrei
em lugar nenhum e não deve ter sido escrito ou lançado — seja da pianista
Sondra Bianca.
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