terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Diário da Noite, 25 de agosto de 1950

TANGOS

Houve época em que o tango, como o bolero e o baião, atualmente, dominava. Só se cantava tangos, como no momento só se canta e assovia boleros românticos e buliçosos baiões. Carlos Gardel, Francisco Canaro, Francisco Lomuto, Charlo, Ernesto Famá, Tania, Mercedes Simone, Juan de Dios Filiberto, Alfredo de Angelis e outros eram cartazes que todo o mundo admirava e os seus fãs reviravam os olhos ao ouvir uma de suas interpretações. Entretanto, o advento do tango passou. E passou por dois motivos, sendo o principal deles o fato de os compositores transformarem as suas partituras em autênticos dramalhões, cheios de lamúrias, choros e soluços. A outra razão foi a popularidade do bolero que, diga-se de passagem, ultimamente está enveredando, inadvertidamente, para o mesmo caminho do tango, isto é, seus autores começam a insistir em temas dramáticos. Haja vista a última composição do autor de Hipócrita, Carlos Crespo, intitulada Suicídio. Haverá tema tão fora de propósito como esse? Entretanto, Carlos Crespo utilizou-o e, até, deu-se ao luxo de radiofonizar a gravação para imprimir maior realismo ao seu Suicídio.

Entretanto, apesar de o tango não possuir mais aquela legião enorme de apreciadores, ele tem o seu público. Assim, as firmas gravadoras, todos os meses, não deixam de incluir em seus repertórios, uma ou duas gravações, contendo o ritmo argentino.

Charlo (Carlos Pérez de la Riestra)
É para os apreciadores do tango, portanto, a nossa nota de hoje, uma vez que vamos divulgar as novidades do tango, prometidas pelas diversas etiquetas, e a serem lançadas no próximo mês.

Pela orquestra de Francisco Lomuto, a Victor tem programado nada menos de seis discos, contendo as seguintes gravações: Seleções de Tangos, Una Pena, Mi Mejor Canción, Muñequita, Sombras... Nada Más, La Calle Maldita, Mi Moro, Pialando Léguas, Mi Corazón Te Llama e Vivorita.

A Odeon, além dos discos de Gardel, que todos os meses são reeditados, e depois de nos ter dado, no suplemento deste mês, gravações das orquestras típicas de Enrique Rodriguez e Osvaldo Pugliese, incluiu em sua lista de setembro próximo, gravações das típicas de Francisco Canaro e de Rodolfo A. Biagi. O primeiro, com os tangos La Cara de La Luna e La Clavada; e a segunda com o tango Cuando Llora Mi Milonga, tendo na parte vocal Alberto Amor, e a valsa Amor y Vals, vocalizada por Alberto Lago.

Casa Nelson & Nelson

Roldofo Biagi
A Continental, por sua vez, através de gravações da Sond’Or, do Uruguai, já está colocando nas revendedoras, pela orquestra típica de Carusito, os tangos No Puede Perder e Sierra y Miguelete.

A safra de tangos, como se pode verificar, não vai ser tão grande no mês próximo, o que facilitará a tarefa de escolha por parte dos apreciadores do delicioso ritmo portenho.

Na foto: A característica principal das gravações de Rodolfo A. Biagi e sua orquestra típica argentina é o destaque sempre permitido ao seu piano, dedilhado com muito vigor, dando aos tangos que interpreta colorido diverso das demais orquestras típicas portenhas. Um disco do conjunto de Biagi está programado para os lançamentos da Odeon para setembro próximo. Cuando Llora Mi Milonga e Amor y Vals são as melodias que fazem parte desse disco.

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