terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Diário da Noite, 26 de agosto de 1950

VOCALISTA DE PROJEÇÃO

Apesar de ser quase desconhecida do público brasileiro, Jacqueline François é, no momento, considerada a expressão máxima da canção francesa. É ainda muito jovem e impressiona o público que a ouve nos fumarentos cabarés parisienses não apenas pela sua bela e suavíssima voz, senão também pelo seu corpo esculturalmente provocante. Os amantes do disco, entretanto, admiram Jacqueline François apenas pela tonalidade essencialmente gaulesa de sua voz. De nossa parte, tomamos conhecimento da existência dessa magnífica vocalista através de algumas gravações da Polydor, uma das mais prestigiosas gravadoras européias que agira ressurge, pois esteve paralisada desde a segunda conflagração mundial.

Em 1948, Jacqueline François obteve o Grand Prix du Disque, para canções com a sua mais do que convincente interpretação da bela canção Cest Le Printemps, gravada em disco Polydor, cuja etiqueta levou o nº 560.047. a melodia, apesar de muito bonita, é de difícil vocalização, dada a prosódia cerrada, que poderia constituir obstáculo intransponível a uma artista inexperiente. Além do mais, a orquestração a ela imposta, também muito bonita e o excelente acompanhamento executado pela Orquestra de Paul Durante, contribuíram de forma decisiva para que Jacqueline conquistasse tão ambicionado prêmio. Este seu disco foi, assim, considerado excelente, em todos os sentidos.

Jacqueline François
Aliás, se poderia dizer mais ou menos a mesma coisa em relação às gravações que recebemos da Polydor e que nos apresentaram Jacqueline François. Nestes discos ela nos proprociona as canções Bal de Nuit, La Mer, La Vie en Rose, Si Vouz M’aimiez Autant, Pour Lui, Incognito e Marouska, esta uma canção zíngara na qual Jacqueline François demonstra a sua aprimorada veia artística em toda a sua exuberância, através de uma interpretação muito expressiva e impregnada de emoção.

Os amantes da canção francesa não devem deixar de conhecer essas gravações dessa magnífica vocalista gaulesa. Através delas toma-se contato com uma das mais bonitas vozes de mezzo-soprano da França.

Dentro de algumas semanas, segundo despachos de Paris, Jacqueline François deverá viajar para o Brasil, onde realizará uma temporada.

Diário de S. Paulo, 16/7/50
Na foto: Quando da estada em São Paulo dessa espetacular contralto que é Marian Anderson, a Victor reeditou várias gravações suas há muito esgotadas, inclusive o interessante álbum Songs and Spirituals. O interesse do público pela arte de Marian foi tal que nas prateleiras do depósito da aludida gravadora não é possível encontrar-se uma gravação sequer da célebre cantora colored americana. É de esperar-se que a Victor mande reimprimir as melhores ceras de Marian Anderson, especialmente o álbum a que nos referimos, porquanto são poucas as casas onde ainda se pode encontrar um disco da notável contralto.

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