UM CONCERTO
Ouvimos, há poucos dias, um dos últimos
lançamentos da Victor de seu suplemento de música clássica. Trata-se do Concerto
em Ré, para violino e orquestra, opus 35, de Tchaikowsky, com Erica Morini
ao violino, secundada pela Orquestra Sinfônica de Detroit, sob a direção de
Desiré Defauw. Compõe-se, esse álbum da marca do cachorrinho, que levou o nº
1.168, de quatro discos de doze polegadas, proporcionando ao ouvinte, portanto,
quase uma hora de boa música.
O aludido concerto do mestre russo, quando foi
dado a conhecer ao público, sofreu uma das mais impiedosas campanhas de
descrédito jamais feita contra um autor. Os próprios amigos de Tchaikowsky não
o pouparam, apontando na obra erros e defeitos que o autor, por mais que se
esforçasse, não conseguia encontrar, apesar de estar concorde em que o Andante
não satisfazia, o que o levou, mais tarde, recompô-lo. Até Mme. Von Meck, sua
patrocinadora, que sempre teve ilimitada admiração por Tchaikowsky,
considerando-o um gênio, chegou, certa vez, a apontar coisas neste Concerto em
Ré, opus 35, para violino e orquestra. Leopold Auer, na época um dos mais
prestigiosos virtuoses de São Petersburgo, a quem primeiramente Tchaikowsky
havia dedicado o concerto, na esperança de induzi-lo a lançar a obra em uma
carreira triunfal, disse, assombrado, ao passar os olhos pela partitura, que
aquilo “era impossível de tocar”.
Erica Morini |
Apesar dos esforços do violinista e da Orquestra
de Viena, a estréia redundou num irremediável fiasco, que a crítica, como é
fácil compreender, não deixou de explorar. Edward Hanslick, por exemplo, um dos
mais severos críticos da época, considerado mesmo uma espécie de ditador dos
destinos musicais, chegou ao extremo de empregar uma frase ofensiva, quer aos
leitores, quer ao autor da obra, ao dizer que o concerto em questão “fedia aos
ouvidos”. Com que amargura Tchaikowsky leu o conceito que Hanslick fazia do seu
trabalho. E esse desgosto o perseguiu até a morte. O tempo, entretanto, se
encarregou de provar o quanto estavam enganados os que, na ocasião, não puderam
compreender a grande obra.
Desiré Defauw |
Com a alusão à gravação propriamente dita, não
poderíamos dizer outra coisa, senão que está excelente, com perfeito equilíbrio
entre o solista e a orquestra, por sinal magnificamente regida pelo maestro
Desiré Defauw.
Bruno Walter |
Na foto: Já que em nosso comentário de hoje
focalizamos uma obra clássica, nada mais justo do que recomendarmos também aos
leitores que gostam das grandes obras, a gravação da Sinfonia nº6 (Pastoral),
de Beethoven, pela Orquestra Sinfônica de Filadélfia, sob a regência do
admirável Bruno Walter, feita pela Columbia, que a reuniu num álbum de cinco
discos para acoplo automático.
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