CANTOR DE FUTURO
Em
gravações anteriores desse jovem cantor que é Francisco Carlos, embora tenhamos
reconhecido nele um vocalista de largos predicados, não lhe fomos favoráveis em
nossas considerações. Não que Francisco Carlos tenha cantado mal nas aludidas
ceras, mas em face das composições de segunda ordem que escolheu para gravar e
nas quais, por cúmulo dos cúmulos, interveio apenas um minguado regional não
muito homogêneo, transformando as gravações em algo de padrão bastante
inferior.
Foi,
assim, com alguma reserva que colocamos no pick-up, para analisar a sua
última gravação para a etiqueta Victor. Neste disco, Francisco Carlos gravou,
de um lado, Rio de Janeiro, de Ary Barroso, e Anjo da Noite, de
Klecius Caldas e Armando Cavalcanti. O samba de Ary Barroso, Rio de Janeiro,
como se sabe, foi composto quando o inspirado e fecundo autor se encontrava em
Hollywood, sob contrato da Republic Pictures, a fim de escrever o score
musical do filme Rio de Janeiro, estrelado por Tito Guízar. O tema
principal do aludido score, foi o samba em questão e foi cantado pelo
astro do filme, que o gravou, posteriormente, em disco Victor, num tremendo
português.
Francisco Carlos |
Francisco
Carlos, porém, nos reservava uma surpresa. Demonstrou que, secundado por uma
orquestra de escol, através de uma orquestração digna dos melhores elogios,
canta magnificamente e sua voz e a sua interpretação ganham nova vida, novo
colorido, convencendo plenamente e desfazendo toda a má impressão ocasionada
pelas suas gravações anteriores. É possível que outro cantor o iguale na
interpretação de Rio de Janeiro. Cremos, entretanto, ser difícil
superá-lo.
Já
a composição Anjo da Noite, samba-canção de Klecius Caldas e Armando
Cavalcanti, é de padrão inferior à página de Ary Barroso, embora também seja
interessante. Mereceu, igualmente, um tratamento vocal e orquestral cuidadoso
por parte de Francisco Carlos e do conjunto que executou o acompanhamento, ao
qual a etiqueta não faz qualquer referência, ocultando o seu nome.
Francisco Carlos |
Francisco
Carlos, com o disco em apreço, se reabilitou perante nós, e, principalmente,
perante o público. Demonstrou a sua exuberância vocal e, que é, assim, um
cantor de futuro promissor. O disco em questão deve, pro isso, ser ouvido pelos
amantes da música brasileira.
Na
foto: Francisco Carlos, que nos oferece uma bonita vocalização do samba de Ary
Barroso, Rio de Janeiro, na gravação objeto das nossas notas de hoje.
Deste mesmo samba, como se sabe, existem outras gravações, entre as quais a de
Roberto Inglez e sua Orquestra, para a Parlophone, que foi editada no Brasil
pela Odeon, e a de Tito Guízar, para a Victor, que por sinal foi quem gravou em
primeiro lugar a bonita composição, porquanto ela fez parte integrante de um
filme de que foi o ator principal e que tinha por ambiente a capital da
República.
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