terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Diário da Noite, 29 de agosto de 1950

CANTOR DE FUTURO

Em gravações anteriores desse jovem cantor que é Francisco Carlos, embora tenhamos reconhecido nele um vocalista de largos predicados, não lhe fomos favoráveis em nossas considerações. Não que Francisco Carlos tenha cantado mal nas aludidas ceras, mas em face das composições de segunda ordem que escolheu para gravar e nas quais, por cúmulo dos cúmulos, interveio apenas um minguado regional não muito homogêneo, transformando as gravações em algo de padrão bastante inferior.

Foi, assim, com alguma reserva que colocamos no pick-up, para analisar a sua última gravação para a etiqueta Victor. Neste disco, Francisco Carlos gravou, de um lado, Rio de Janeiro, de Ary Barroso, e Anjo da Noite, de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti. O samba de Ary Barroso, Rio de Janeiro, como se sabe, foi composto quando o inspirado e fecundo autor se encontrava em Hollywood, sob contrato da Republic Pictures, a fim de escrever o score musical do filme Rio de Janeiro, estrelado por Tito Guízar. O tema principal do aludido score, foi o samba em questão e foi cantado pelo astro do filme, que o gravou, posteriormente, em disco Victor, num tremendo português.

Francisco Carlos
Francisco Carlos, porém, nos reservava uma surpresa. Demonstrou que, secundado por uma orquestra de escol, através de uma orquestração digna dos melhores elogios, canta magnificamente e sua voz e a sua interpretação ganham nova vida, novo colorido, convencendo plenamente e desfazendo toda a má impressão ocasionada pelas suas gravações anteriores. É possível que outro cantor o iguale na interpretação de Rio de Janeiro. Cremos, entretanto, ser difícil superá-lo.

Já a composição Anjo da Noite, samba-canção de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti, é de padrão inferior à página de Ary Barroso, embora também seja interessante. Mereceu, igualmente, um tratamento vocal e orquestral cuidadoso por parte de Francisco Carlos e do conjunto que executou o acompanhamento, ao qual a etiqueta não faz qualquer referência, ocultando o seu nome.

Francisco Carlos
Francisco Carlos, com o disco em apreço, se reabilitou perante nós, e, principalmente, perante o público. Demonstrou a sua exuberância vocal e, que é, assim, um cantor de futuro promissor. O disco em questão deve, pro isso, ser ouvido pelos amantes da música brasileira.

Na foto: Francisco Carlos, que nos oferece uma bonita vocalização do samba de Ary Barroso, Rio de Janeiro, na gravação objeto das nossas notas de hoje. Deste mesmo samba, como se sabe, existem outras gravações, entre as quais a de Roberto Inglez e sua Orquestra, para a Parlophone, que foi editada no Brasil pela Odeon, e a de Tito Guízar, para a Victor, que por sinal foi quem gravou em primeiro lugar a bonita composição, porquanto ela fez parte integrante de um filme de que foi o ator principal e que tinha por ambiente a capital da República.

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