sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Diário da Noite, 13 de setembro de 1950

NOTAS RÁPIDAS

Tantos têm sido os lançamentos das gravadoras, que o cronista se vê em palpos de aranha não só para ouvir todos, mas, principalmente, para tecer sobre eles as considerações que deseja. Assim, a fim de vencermos a avalanche, vamos focalizar algumas gravações com poucas palavras, apenas o essencial para que o discófilo tenha uma idéia do seu padrão.

* Dentre os lançamentos Columbia de gravações de melodias americanas, sem dúvida nenhuma o melhor deles foi o disco de Herb Jeffries, secundado pela magnífica orquestra de Hugo Winterhalter, no qual ele vocaliza a velha e interessante Canção do Amor Pagão, do filme Amor Pagão, há tanto tempo exibido entre nós, tendo como astro Ramon Navarro, então “mocinho” preferido das garotas da época. Na face oposta do disco vamos encontrar o fox Jamais Seja Dito, do filme O Invencível. Gostamos mais da face da Canção do Amor Pagão, porque temos a impressão de que Herb Jeffries canta com maior desenvoltura e mais emotividade, muito embora no outro lado do disco ele não esteja mal. Como sempre, o conjunto orquestral de Winterhalter valoriza a gravação com suas caprichadas orquestrações.

Herb Jeffries, que em setembro de 2013
completou 100 anos
* A conhecida canção Mule Train, já gravada por um sem número de artistas e conjuntos americanos, mereceu cuidadosa interpretação de Vaughn Monroe e sua orquestra. Parece-nos constituir a melhor interpretação da popular partitura. Vaughn Monroe, como se sabe, é dono de uma tonalidade vocal muito pessoal, parecendo que a música em questão foi feita sob medida para ela. Além disso, há aqueles estalos de chicote, para caracterizar o tema, Diligência, que são de um sabor todo especial. Na outra face, Vaughn Monroe nos proporciona outra melodia característica, Singing My Way Back Home, também interpretada com capricho, dando-lhe o colorido próprio. Um dos bons lançamentos Victor do seu suplemento de setembro.

Alcides Gerardi
* A Odeon, depois de nos dar aquela magnífica versão do samba Maria, de Ary Barroso, com Alcides Gerardi, secundado por Carioca e sua orquestra, mais o Coro dos Apiacás, vai proporcionar-nos também com Alcides Gerardi, este mês, um fox, Um Mês É Muito Tempo, de autoria de Irani de Oliveira e Euclydes Silva; e um samba, Jardim Sem Flor, de Waldemar Silva e Mary Monteiro. Assistido de maneira surpreendente pela orquestra de Carioca, Gerardi, que é dono de uma voz bastante interessante, se porta de forma segura em ambas as faces do disco, em especial na do fox, que é uma composição delicada, de melodia deliciosa, que a gente guarda com facilidade. Um dos bons lançamentos da aludida etiqueta.

* As Irmãs Castro gravaram, já faz algum tempo, para a Continental, a composição de José Alves dos Santos (Nhô Pai), Beijinho Doce. Não nos recordamos se foi em marcação de maracatú, de samba ou baião. Valsa é que não foi. Agora, Sólon Salles gravou, para o mesmo selo, o mesmo Beijinho Doce, mas em tempo de valsa. Para sermos sinceros, foi a primeira gravação desse cantor que ouvimos até o fim. Aqui, o jovem não apresenta aqueles seus graves defeitos, isto é, nasalizando as palavras, ou fazendo-as escapulir com dificuldade por entre os dentes, ou ainda afetando certas palavras com inflexões fortes em excesso ou pequenas em demasia, parecendo mais um sussurro. Embora não tenhamos gostado do samba da face oposta, Meu Castigo, de autoria de José Nicolini, apreciamos muito a orquestração de Antonio Sergi, que o enfeita bastante.

Emile Prud'Homme
Agora, um apelo a Sólon Salles: cante sempre como cantou em Beijinho Doce e reforme o seu repertório. As valsas lamuriosas que o integram são coisas passadiças que pouca gente aceita hoje em dia. Quanto à gravação, se recomenda pela face de Beijinho Doce.

Na foto: O conjunto orquestral de Emile Prud’Homme possui uma verdadeira legião de apreciadores em toda a França. Suas atuações nos cabarés de Paris arrastam, diariamente, enormes rendas para os cofres dos seus proprietários. É por isso, possivelmente, o conjunto mais bem pago da Cidade Luz. Dentre os lançamentos Odeon, do corrente mês, figura um disco de Emile Prud’Homme e seu conjunto em que se acham gravadas as melodias Pigalle, de Georges Ulmer, e Aconchegado ao Teu Coração, de R. Hardy. Lucien Jeunesse é o responsável pelos refrões vocais, aliás, bastante curiosos.

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