quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Diário da Noite, 4 de setembro de 1950

EXPLICAÇÃO IMPRESCINDÍVEL

Já afirmamos uma vez e tornamos a reiterar a afirmativa nessa conjetura: não temos a pretensão de ser críticos. Nosso objetivo, com esta despretensiosa coluna de discos, outro não é senão examinar as gravações lançadas pelas diversas firmas e sobre elas tecer algumas considerações, demonstrando ao leitor, que gosta de disco, quais os lançamentos que deve ou quais os que não deve incluir em sua estante. Assim, a fim de orientar o público, além da nossa opinião sobre as gravações, compilamos pequenas informações sobre o que vai no mundo dos discos, objetivando trazer sempre em dia as notícias relacionadas ou diretamente presas ao movimento discófilo.

Temos procurado ser absolutamente imparciais em nossas apreciações. Ao analisarmos uma gravação não olhamos a sua etiqueta. Se a gravação merece aplausos não lhe regateamos, seja o seu selo de uma grande gravadora ou seja da mais modesta. O mesmo acontece com as gravações vulgares, que não são poucas, muitas das quais não merecem sequer um comentário, mesmo desfavorável. Assim, nos limitamos apenas a noticiar o seu aparecimento.

Ao que parece, entretanto, o nosso trabalho não está sendo bem compreendido. Pelo menos, em determinada gravadora. E precisamente a empresa sobre cujos discos temos tecido, por merecerem, as mais favoráveis apreciações. Nem tudo, entretanto, o que ali se grava é de bom padrão. De modo que, a par dos comentários favoráveis, não temos aplaudido outras iniciativas suas. Isso levou um mentor da aludida firma gravadora a nos procurar para nos fazer sentir que o nosso trabalho “não o estava satisfazendo”. Argumentou que a sua nova fábrica, sendo “a maior da América do Sul” (é opinião dele), não poderia compreender por que temos proporcionado aos seus lançamentos tratamento igual aos das demais, cujos produtos ele considera inferiores ao da sua firma.


Como se vê, o aludido produtor não apreendeu bem as finalidades desta seção. Por que haveríamos de olhar com mais simpatia aos seus discos? Esta coluna existe em função do disco e não das gravadoras. Por que, por exemplo, haveríamos de tecer considerações favoráveis a um seu lançamento que, positivamente, não as merece e ao qual, como sugerimos, dada a letra inconveniente da composição, deveria ser colocado, em lugar bem visível, os dizeres “impróprio para menores e senhoritas”? Demais, que nos perdoe a franqueza o aludido mentor, pouco se nos dá se os nossos comentários desfavoráveis não lhe agradem. Não temos, com ele ou com qualquer outra firma gravadora, nacional ou estrangeira – e nem poderíamos ter – quaisquer compromissos.

Rádio Tupi - Cancioneiro do Brasil, 1950

O único compromisso que temos é com os leitores do DIÁRIO DA NOITE. A eles foi que prometemos informar com absoluta imparcialidade, sobre o padrão das gravações, embora, muitas vezes, tenhamos que desgostar ou “não satisfazer” artistas verdadeiros, compositores e músicos, que merecem toda a nossa admiração, e até – e por que não? – os próprios generais da indústria do disco. Que fique esclarecido, portanto, de uma vez por todas: não temos preferência pelos produtos desta ou daquela empresa gravadora. Todas elas, pequenas ou grandes, terão o mesmo acolhimento por esta coluna, isto é, serão tratadas no mesmo pé de igualdade.


Edú da Gaita
Se o que produzirem for bom, aqui estaremos para aplaudir. Se mau, não teremos dúvida em dizê-lo com a mesma sinceridade e independência, de acordo, aliás, com o compromisso que assumimos, repetimos, com o público.

Na foto: Eduardo Nadruz, ou “Edú”, como é conhecido, pode ser incluído no rol dos mais perfeitos virtuoses da gaita, ou harmônica de boca. Tendo perfeita noção de sua arte e possuidor de um bom gosto musical, aliada a uma apurada sensibilidade, “Edú” escolhe bonitas páginas para levar ao disco, satisfazendo, assim, as exigências dos seus incontáveis admiradores, não só no Brasil, como de todo o mundo, especialmente dos países sul-americanos. Sua última gravação para a Continental, da qual é artista exclusivo, e que por sinal já foi objeto de considerações neste canto de coluna, encerra duas interessantes páginas: Arabescos e Fumaça Nos teus Olhos.

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