sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Diário da Noite, 14 de setembro de 1950

VÁRIOS LANÇAMENTOS

Torna-se difícil saber quando terá fim a discussão musical estabelecida entre Herivelto Martins e Dalva de Oliveira. De nossa parte achamos essa questão profundamente ridícula. Afinal de contas, o público nada tem que ver com o caso que levou o casal a se separar. Além do mais, não nos parece recomendável que Herivelto, através de suas composições, venha acusar a esposa de traição, nem fica bem à Dalva, também através da música, confessar, publicamente, o seu erro. É bem verdade que o ouvinte que desconhece o caso Herivelto-Dalva não ligará uma coisa com a outra. Mas acreditamos serem poucos os que o desconheçam, tal a publicidade que se fez sobre o assunto.

A confissão pública do “seu erro”, Dalva o faz através do samba de Ataulfo Alves, Errei, Sim, gravado em disco Odeon. Não há negar, se trata de um bonito e sentido samba. Dalva o interpreta com muito sentimento, dando-nos a impressão de que as lágrimas lhe rolam pelas faces. Dir-se-ia tratar-se de uma explicação pública de um erro de que foi acusada – que ela não nega – pelo contrário, o justifica, ou procura fazê-lo. A orquestra de Carioca acompanha a vocalista, através de uma orquestração digna do seu renome. Na face oposta do disco vamos encontrar um samba de autoria de Alvarenga e Ranchinho, Segundo Andar. A composição não é das melhores, mas salva-se em virtude do tratamento que lhe emprestam Dalva de Oliveira e o conjunto de Carioca.

Dalva de Oliveira
* Jorge Goulart, cuja tonalidade vocal é gêmea da de Sílvio Caldas, levou ao disco, sob responsabilidade da etiqueta Continental, o fox de Frazão e Roberto Martins 25 de Abril e o samba de Ataulfo Alves e Peter Pan, Lírios do Campo. Cópia e seu conjunto orquestral foram os responsáveis pela execução do acompanhamento, através de uma orquestração digna dos melhores elogios. O fox de Frazão e Roberto Martins é dos mais interessantes, tendo como tema a data de fundação da capital da República e um amor que teve início precisamente nessa data. Muito bom também o samba do veterano Ataulfo Alves e do fecundo Peter Pan, igualmente muito bem tratado por Jorge Goulart. Um disco que se recomenda.

Isaurinha Garcia
* Isaura Garcia está presente no suplemento Victor cantando dois números: Duelo, um samba-canção de Cícero Nunes, e Mania de Balzaquianas, choro de Gadé e Walfrido Silva. Duas composições sofríveis que, não sabemos como, Isaura Garcia escolheu para gravar, desperdiçando, assim, duas faces da sua quota anual na Victor. Entretanto, se tivéssemos que escolher entre as duas, preferimos o choro de Gadé e Walfrido Silva. O padrão vocal de Isaura Garcia é o mesmo. Canta com segurança, dominando bem as dificuldades das composições, especialmente do choro, que é em tom alto e de cadência vibrante. Acompanha-a um regional, o que torna a gravação muito pobre e não enfeita a voz inegavelmente bonita de Isaura Garcia. A prestigiosa artista paulista está precisando ser melhor orientada na escolha das músicas que deve levar ao disco. Os seus fãs incondicionais, entretanto, poderão aceitar este seu último disco.


Benedito Lacerda e Pixinguinha
Na foto: Benedito Lacerda e Pixinguinha são dois compositores populares dos mais conhecidos. Os grandes cartazes da música indígena têm levado ao disco composições suas e, com elas, conseguido os mais estimulantes sucessos. Agora, Benedito Lacerda e Pixinguinha resolveram gravar juntos. A Victor, que o mês passado já nos dera Yaô, um lundú africano, e Atraente, um choro, na execução dos dois solistas, acompanhados de regional, nos vai oferecer, este mês, por eles mesmos, dois choros: Matuto e Displicente. Os amantes do gênero, sem dúvida, encontrarão nesse disco material de primeira.

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