sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Diário da Noite, 11 de setembro de 1950

GRAVAÇÕES DE HENRY

Consoante tivemos ocasião de noticiar, Georges Henry e sua orquestra, composta de elementos pertencentes ao cast das Emissoras Associadas de São Paulo, tendo como figura principal o admirável William Fourneau, gravaram sob a responsabilidade da etiqueta Continental dois discos, em cujas faces vamos encontrar os seguintes números: Holiday For Strings, de David Rose, A Dança do Sabre, de Khachaturian, Que Nem Jiló, de Luiz Gonzaga, e Trem-ó-lá-lá, sendo que os dois últimos números são, como se sabe, movimentados baiões.

Gostamos imensamente do disco, que encerra as gravações de Holiday For Strings e de A Dança do Sabre. Não apenas pela interpretação do conjunto e da performance do assovio de William Fourneau, senão também pelo som da gravação, que nos surpreendeu. Antes de Henry executar as gravações em apreço, tivemos ocasião de dizer-lhe das nossas dúvidas quanto à perfeição do som. Jamais os discos que iria gravar poderiam ser iguais ao executado no Rio de Janeiro, no qual gravou Hora Staccato. É que, como lhe explicamos na ocasião, apesar das reformas feitas pela Continental no seu estúdio, em virtude da sua inconveniente localização, entre indústrias de cofres, arquivos e outras coisas, com a sua maquinaria complicada, seria impossível conseguir um disco de alta fidelidade, apesar de as gravações serem feitas após meia-noite. Talvez gravações simples é possível que saiam desse estúdio 100% perfeitas, como tem acontecido com as de artistas secundados apenas de regional, com as de solistas de harmônica, de bandolim, cavaquinho e com as duplas caipiras. Entretanto, com orquestra, a questão se complica, tecnicamente.

Georges Henry, Diário de S. Paulo, 16/7/50
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Mas , como dissemos, o disco objeto das nossas considerações nos surpreendeu sobretudo pelo seu bom som. É verdade, conforme soubemos depois, artistas e técnicos “apanharam” durante quatro horas seguidas para acertar. Mas acertaram. E o resultado aí está, o disco em questão, com um som quase perfeito.

Quanto ao segundo disco, já não podemos dizer o mesmo. A sonoridade está excessivamente metálica e a voz de William Fourneau, cantando os baiões, distorcida, mais fina que o normal. Talvez as duas gravações constantes deste disco, foram feitas por último quando todos já estavam esgotados, especialmente o técnico.

Chuva de Astros - Diário de S. Paulo, 5/6/50
Com alusão à parte artística, só temos palavras de estímulo. Todos conhecem o quilate da arte de William Fourneau, de modo que inútil se torna dizer que o seu assovio, em Holiday For Strings e em A Dança do Sabre, esteve seguríssimo e a sua vocalização nos demais números, convincente. Bastante curioso aquele seu malabarismo vocal, nos últimos sulcos de Holiday For Strings. Trata-se, realmente, de um festival de cordas... vocais...

Georges Henry, como sempre, muito seguro na regência e no sopro do seu endiabrado pistão. Todas as seções do conjunto se portaram de forma elogiável, primando pela homogeneidade. Bastante interessante aquele rápido solo de piano, em Que Nem Jiló, de efeito imprevisto e curioso.

É uma pena que o som de um dos discos, como dissemos, não esteja perfeito. Mas isto é coisa que se notará apenas ouvindo o disco como nós, com espírito analítico. Afora isso, tudo OK e as gravações merecem, assim, as atenções do público, especialmente pela originalidade das interpretações.

Na foto: Georges Henry, de cujas gravações falamos em nossa crônica de hoje, vem de ser contratado para dirigir a parte musical das Emissoras Associadas. A capacidade artística do moço regente gaulês o credencia para ocupar cargo de tamanha responsabilidade que, a par de aplausos e alegrias, também traz dissabores. Fazemos votos, entretanto, para que a sua missão no espinhoso cargo seja coroada de pleno êxito.

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