GRAVAÇÕES DE HENRY
Consoante tivemos ocasião de noticiar, Georges
Henry e sua orquestra, composta de elementos pertencentes ao cast das Emissoras
Associadas de São Paulo, tendo como figura principal o admirável William Fourneau,
gravaram sob a responsabilidade da etiqueta Continental dois discos, em cujas
faces vamos encontrar os seguintes números: Holiday For Strings, de
David Rose, A Dança do Sabre, de Khachaturian, Que Nem Jiló, de
Luiz Gonzaga, e Trem-ó-lá-lá, sendo que os dois últimos números são,
como se sabe, movimentados baiões.
Gostamos imensamente do disco, que encerra as
gravações de Holiday For Strings e de A Dança do Sabre. Não
apenas pela interpretação do conjunto e da performance do assovio de William Fourneau,
senão também pelo som da gravação, que nos surpreendeu. Antes de Henry executar
as gravações em apreço, tivemos ocasião de dizer-lhe das nossas dúvidas quanto
à perfeição do som. Jamais os discos que iria gravar poderiam ser iguais ao
executado no Rio de Janeiro, no qual gravou Hora Staccato. É que, como
lhe explicamos na ocasião, apesar das reformas feitas pela Continental no seu
estúdio, em virtude da sua inconveniente localização, entre indústrias de
cofres, arquivos e outras coisas, com a sua maquinaria complicada, seria
impossível conseguir um disco de alta fidelidade, apesar de as gravações serem
feitas após meia-noite. Talvez gravações simples é possível que saiam desse
estúdio 100% perfeitas, como tem acontecido com as de artistas secundados
apenas de regional, com as de solistas de harmônica, de bandolim, cavaquinho e
com as duplas caipiras. Entretanto, com orquestra, a questão se complica,
tecnicamente.
Georges Henry, Diário de S. Paulo, 16/7/50 Clique para ver em alta resolução |
Quanto ao segundo disco, já não podemos dizer o
mesmo. A sonoridade está excessivamente metálica e a voz de William Fourneau,
cantando os baiões, distorcida, mais fina que o normal. Talvez as duas
gravações constantes deste disco, foram feitas por último quando todos já
estavam esgotados, especialmente o técnico.
Chuva de Astros - Diário de S. Paulo, 5/6/50 |
Georges Henry, como sempre, muito seguro na
regência e no sopro do seu endiabrado pistão. Todas as seções do conjunto se
portaram de forma elogiável, primando pela homogeneidade. Bastante interessante
aquele rápido solo de piano, em Que Nem Jiló, de efeito imprevisto e
curioso.
É uma pena que o som de um dos discos, como
dissemos, não esteja perfeito. Mas isto é coisa que se notará apenas ouvindo o
disco como nós, com espírito analítico. Afora isso, tudo OK e as gravações
merecem, assim, as atenções do público, especialmente pela originalidade das
interpretações.
Na foto: Georges Henry, de cujas gravações
falamos em nossa crônica de hoje, vem de ser contratado para dirigir a parte
musical das Emissoras Associadas. A capacidade artística do moço regente
gaulês o credencia para ocupar cargo de tamanha responsabilidade que, a par de
aplausos e alegrias, também traz dissabores. Fazemos votos, entretanto, para
que a sua missão no espinhoso cargo seja coroada de pleno êxito.
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