O “REI DA VOZ”
Dentro de poucos dias a Odeon colocará nas casas
revendedoras um disco de Francisco Alves em que o “rei da voz” gravou Boa
Noite, Amor, valsa de José Maria de Abreu e Francisco Mattoso; e Na
Estrada do Bosque, fox de C. A. Bixio, numa versão de Humberto Teixeira.
Chico Alves já gravou, faz um bocado de tempo, a
bonita valsa de José Maria de Abreu. Foi uma bela gravação, que aliás ainda
pode ser encontrada nas boas casas do ramo, se o interessado conseguir topar
com um empregado de bons bofes e que se disponha a procurá-la. Chico, então,
estava em plena forma. Sua voz era, como ele, jovem e possuidora de toda a
exuberância que o tempo, aos poucos, mas paulatinamente, vai esgotando. O Boa
Noite, Amor, da primeira gravação, assim demonstra o “rei da voz” na
plenitude do seu reinado. A sua gravação recente, entretanto, embora boa, isto
é, de bom padrão, é, porém, inferior à primeira, no que diz respeito à voz e à
interpretação. É bem verdade que há uma interessante orquestração do maestro Oswaldo
Borba. Mas, apesar disso, preferimos o primeiro Boa Noite, Amor. Chico
Alves, apesar dos seus 52 anos, ainda é senhor de sua voz. Entretanto,
observa-se que nas notas altas ele já se esforça bem mais. Nos últimos sulcos
da gravação, quando o ouvinte espera um daqueles agudos que costumava dar – e
tem-se a nítida impressão de que ele ia realizar o feito – tem uma tremenda
decepção ao ouvir que ele cai cá embaixo, na outra oitava.
Já a face oposta nos causou melhor impressão. A
Estrada do Bosque, fox responsável pela fama de Gino Bechi, então conhecido
apenas pelos amantes do lírico recebe novo colorido na bonita voz de Chico e,
principalmente, pelas palavras em português, de Humberto Teixeira. É fora de
dúvida que tão logo o disco inicie a rodar pelas vitrolas da cidade, todo mundo
irá cantarolar A Canção do Bosque, em português. Por seu turno, a
homogênea orquestra de Oswaldo Borba executa o acompanhamento com a devida
discreção, dando realce ao vocalista, ganhando destaque ao realizar o solo
entre os refrãos.
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Radamés Gnatalli |
Na foto: Radamés Gnatalli é um dos mais
competentes regentes e orquestradores do país. Dono de apurada sensibilidade e
fino gosto, suas orquestrações constituem, na matéria, verdadeiras
obras-primas. Muita gente o julga estrangeiro, em virtude do seu sobrenome.
Entretanto, o maestro Gnatalli é brasileiro, ou, mais precisamente, gaúcho.
Pianista de largos recursos, não resistiu ao desejo de levar ao disco o som de
um piano acionado pelos seus ágeis dedos. E assim, gravou recentemente, para a
Continental, sob o pseudônimo de “Vero”, o choro Tocantins, de José
Rebelo da Silva, e a valsa Madrigal, de Aurélio Cavalcanti. Os que
apreciam solos de piano não devem deixar de ouvir esse bonito disco.
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