quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Diário da Noite, 5 de setembro de 1950

NOTAS E NOTÍCIAS

Notícias procedentes dos Estados Unidos dão conta de que um samba bem brasileiro se transformou numa autêntica coqueluche para os norte-americanos. Trata-se do samba Cadê a Jane?, que leva as assinaturas de Wilson Batista e Erasmo Silva, gravado em disco Alba por Fernando Álvares.[1] – A propósito de Cadê a Jane?, recorda-se que ele foi gravado, não faz muito tempo, pela Continental, com o conjunto vocal Os Cariocas. – A Decca vem de gravar um disco por Eddie Condon e seu conjunto, no qual vamos encontrar Charleston e Black Botour. Como se sabe, Charleston e Black Botour foram os ritmos que deram alegria aos nossos maiores ali por 1920, mais ou menos. E Condon, assim nos proporciona duas agradáveis faces, apesar dos ritmos espalhafatosos das composições. Muito curiosa a vocalização de Peggy Ann Ellis, que, diga-se de passagem, não é uma grande vocalista, secundada pelos demais componentes do conjunto, Wild Bill Davison, Vernon Brown, Peanuts Huck e outros. – No suplemento Columbia do corrente mês reapareceu o nome de Maria Alma com dois interessantes números: Tu Retrato, de Agustín Lara; e Que Te Has Pensado?, de autoria da própria Maria Alma. – Por seu turno a Odeon volta à carga com Fernando Albuerne cantando Cavaleiros do Céu, a mais que batida composição de Stan Jones; e Callejera, de autoria de Carlos Crespo, autor de HipócritaSuicídio e outros sucessos. – Luiz Gonzaga, ao que se propala, vai realizar uma demorada excursão pelo país e a renda líquida dessa campanha – porque será uma autêntica campanha – será empregada na construção de escolas e lactários no sertão do nordeste. Belo gesto do simpático “Lua”.

Luiz Gonzaga, Diário da Noite, 2/9/50
Evaldo Rui (esq.) e Fernando Lobo (dir.), autores
de "Chofer de Praça", e Gonzagão sentado ao piano
Foto do blog de Luis Nassif
– A propósito de Luiz Gonzaga sabe-se que os direitos autorais por ele recebidos no último trimestre foram de 158 mil cruzeiros.

– Têm sido tantos os pedidos recebidos pela Victor, de gravações de Luiz Gonzaga, que a firma distribuidora teve que organizar um sistema de inscrições ou filas para tais pedidos. Para se ter uma idéia da verdadeira coqueluche que são as gravações do “Lua”, basta dizer que em três dias, foram vendidos mais de dez mil discos da sua última criação, Chofer de Praça. – Novos cartazes nos promete a Elite nos seus lançamentos de outubro. Ao que nos assegurou o Alberto Ergas, diretor artístico da etiqueta da rua Major Quedinho, vão constituir verdadeiras bombas atômicas, como o foram as gravações de Neyde Fraga. – O grande Louis Armstrong gravou para a Decca La Vie En Rose e C’est Si Bon. Armstrong e seu pistão, são os mesmos de sempre, sem novidades.

Na foto: Lolita Torres, como se sabe, é uma cantora argentina, especializada ba vocalização de melodias de Espanha. A Odeon já prensou diversos discos seus e, em seu suplemento do corrente mês, programou duas “faces” suas: o passodoble de José Maria Palomo, com palavras de Salvador Valverde, La Cortijera de Jerez; e o tanguillo de Rodrigo e Balsano,[2] El Barquito. Ouvimos a prova e constatamos de bom padrão do disco. Gostamos mais do passodoble, onde Lolita está mais à vontade e a composição de acordo com o seu timbre vocal.

Casas Santiago e Sertaneja


[1] A referência é obscura.  “Disco Alba” talvez seja do efêmero e pouco conhecido selo Albatroz; quanto a Fernando Álvares, parece ser o mesmo que fez sucesso nos anos 30. Como sua carreira secou no início da década seguinte e não há registro dessa gravação em lugar nenhum, a questão fica por enquanto insolúvel.
[2] Na verdade uma pessoa só, Rodrigo Bálsamo.

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